Preta, preto, pretinhos https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br Novidades da comunidade negra no Brasil e no mundo Thu, 09 Dec 2021 15:45:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Guia gratuito orienta adultos sobre como conversar com crianças e adolescentes a respeito de racismo e desigualdade https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/2020/12/16/guia-gratuito-orienta-adultos-sobre-como-conversar-com-criancas-e-adolescentes-sobre-racismo-e-desigualdade/ https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/2020/12/16/guia-gratuito-orienta-adultos-sobre-como-conversar-com-criancas-e-adolescentes-sobre-racismo-e-desigualdade/#respond Wed, 16 Dec 2020 20:35:53 +0000 https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/guia_racismo_tapa-320x213.jpg https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/?p=1595 Em mais de um discurso e carta, Martin Luther King (1929-1968) expressou a dor de ser pai e ter que explicar aos seus filhos o que é o racismo. Uma passagem importante da sua própria infância foi ter compreendido aos seis anos que, por ser negro, o amiguinho de toda a sua então curta vida deixara de brincar com ele porque era branco e havia passado a frequentar uma escola – e um círculo social – diferente.

Falar de racismo com crianças é tão difícil quanto necessário. Na maioria das vezes, elas não se “descobrem” negras até não terem que se deparar com uma situação de discriminação. É o olhar do outro que costuma estabelecer nelas o início de um doloroso processo de doutrinação sobre noções de feio ou bonito, normal, melhor ou pior.

Pensando nisso – e na realidade brasileira – está sendo lançado em português o e-book “Guia para Mães e Pais Lutarem contra o Racismo, pela Igualdade e Justiça”. A tradução e a adaptação do material foi feita pela escritora Cida Chagas a partir do original das autoras Francesca Chong e Lily Pryer, desenvolvido para a plataforma online Yoopies no Reino Unido.

A escritora Cida Chagas, que traduziu e adaptou o guia para o Brasil (Divulgação)

Mas não se trata de conversar sobre discriminação só com meninas, meninos e jovens negros, senão de incluir o público não negro também, em prol de uma educação com valores e atitudes antirracistas entre todos, afirma Chagas. “A ideia do guia é ajudar mães e pais a conversarem com suas crianças e adolescentes sobre racismo. Também orientá-las sobre como apoiar a luta das pessoas negras por igualdade e justiça.”

Com linguagem leve, o volume oferece dicas, atividades e sugestões de filmes, sites, podcasts e livros para diversas faixas etárias, e que servem como recurso para fomentar e enriquecer conversas sobre o tema. Também tópicos que explicam de forma didática e dialética assuntos essenciais para entender o debate racial, como interseccionalidade, ações afirmativas ou marcos históricos e conquistas sociais fundamentais no mundo e no Brasil, como a Revolta da Chibata ou o Dia da Consciência Negra.

No caso do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), por exemplo, o guia explica como nasceu o movimento, por que foi adotado esse nome, e por que defender que “vidas negras importam” não quer dizer que vidas brancas não sejam igualmente importantes: “Imagine que você quebre uma perna e precise ir ao médico. Você diria ao médico que a sua perna está doendo. Embora todos os seus ossos importem, naquele momento é a sua perna que precisa de atenção”, exemplificam as autoras.

Detalhe do volume (Reprodução)

E-book: Guia para Mães e Pais Lutarem contra o Racismo, pela Igualdade e Justiça
De: Francesca Chong e Lily Pryer
Tradução e adaptação para o Brasil: Cida Chagas
Disponível gratuitamente aqui 

 

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Caetano Veloso: “O samba nos dá força e identidade” https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/2017/03/09/caetano-veloso-o-samba-nos-da-forca-e-identidade/ https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/2017/03/09/caetano-veloso-o-samba-nos-da-forca-e-identidade/#respond Thu, 09 Mar 2017 23:06:49 +0000 https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/carlinhos-caetano-teresa-rafael-berezinski-preta-180x120.jpg http://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/?p=314 Em meio à etapa sul-americana de “Caetano Apresenta Teresa” –show que acaba de sair do Uruguai rumo ao Chile, e em que o cantor e compositor baiano sobe ao palco ao lado de Teresa Cristina e Carlinhos Sete Cordas–, o artista conversou com Preta, Preto, Pretinhos sobre música, o “momento sombrio” do Brasil, Gilberto Gil e otimismo.

Caetano Veloso durante show agora em turnê pela América do Sul (Rafael Berezinski).

PPP – Aos cem anos de existência, quais as contribuições do samba para outros gêneros musicais e para a compreensão do brasileiro sobre sua história e cultura?
Caetano – O samba foi paulatinamente tomando o lugar de ritmo brasileiro por excelência e mesmo gênero que representa o Brasil. Isso teve a ver com os planos de Getúlio Vargas, o nosso ditador (depois presidente) populista. Mas os elementos estéticos e históricos do samba sustentam a ambição. O mito diz que ele nasceu na Bahia (como tudo no Brasil: os portugueses desembarcaram na Bahia, Salvador foi a primeira capital, lá se encontram as maiores relíquias arquitetônicas do período colonial e os mais importantes centros religiosos de origem africana). É fato que no Rio, que veio a ser capital do Império e da República, o samba teve desenvolvimentos que configuraram sua natureza hoje reconhecível. Tendo as mais potentes emissoras de rádio do país e as revistas de circulação nacional, o Rio divulgou intensamente sua cultura através das décadas. Há manifestações musicais nordestinas, nortistas, centro-ocidentais e sulistas de grande força. Mas o samba ganhou o lugar central. Ele nos dá força e identidade. Mitos são assim.

PPP – A turnê com Teresa Cristina começou no ano passado e, além do Brasil, já passou por EUA, Europa, Ásia, agora está na América do Sul. O repertório une Cartola e músicas suas que não cantava há algum tempo. Isso vai mudando ao longo das viagens?
Caetano – O repertório de Teresa não mudou. O meu, às vezes, muda um pouco: canto sozinho com meu violão e posso decidir um dia cantar algo que não vinha cantando antes. Mas a base geral permanece a mesma.

PPP – Quais são seus compositores e intérpretes de samba preferidos? Por quê?
Caetano – Wilson Baptista, Noel Rosa, Dorival Caymmi, Geraldo Pereira, Assis Valente, Tom Jobim, Carlos Lyra, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Jorge Ben, Gilberto Gil, Djavan, João Bosco & Aldir Blanc, Arlindo Cruz, Ary Barroso, Nelson Cavaquinho, Cartola, Ivone Lara, Bororó. Isso para só dizer os nomes de autores que me vieram primeiro à cabeça. O próprio número explica quão difícil seria tentar dizer por quê.
Quanto aos intérpretes: João Gilberto, Roberto Silva, Elza Soares, Ciro Monteiro, Aracy de Almeida, Carmen Miranda, Elis Regina, Ângela Maria, Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Teresa Cristina. E mais.

PPP – Qual a importância do samba, em particular, e da cultura brasileira, em geral, para a difusão de um Brasil que pode legar ao mundo não só corrupção e outras mazelas, mas também valores positivos?
Caetano – O Brasil se considerava um país triste. Quando eu era menino, era consenso que éramos um país triste. A ideia, lançada no belo e famoso livro de Paulo Prado (“Retrato do Brasil”), de que o país se formou de “três raças tristes”, era difundida e nunca contestada. As letras das canções eram quase invariavelmente sobre amores fracassados (nisso éramos iguais aos nossos vizinhos latino-americanos e diferíamos do povo dos Estados Unidos). Acho que as coisas começaram a mudar no período da bossa nova. Letras de Vinicius de Moraes e até de Dolores Duran apresentavam situações de amor vitorioso ou feliz. Os jornais de cinema passaram a botar samba na trilha sonora das reportagens sobre jogos de futebol (essa mistura de futebol e samba foi algo que, viso primeiro nos cinemas, me deu a impressão de que o Brasil seria capaz de crescer, enriquecer e brilhar).
Hoje vivemos, mais uma vez, a sensação de que nada de positivo somos capazes de produzir. Tenho uma reserva de otimismo maluco que me faz seguir vendo que, se chegamos a fazer coisas que críamos impossíveis para nós, perdemos o direito de dizer que certas coisas são impossíveis. Depois de descobrirmos que tudo é possível, não poderemos voltar atrás. Sei que estamos num momento em tudo é sombrio. Mas vejo Teresa sobre o palco, ouço o violão de Carlinhos Sete Cordas e retomo a esperança.

PPP – Você disse recentemente que, sem Gil, não estaria fazendo música. Sabemos da relação profunda entre os dois, da sua paixão por seu domínio do violão. Mas a sua permanência na música também está vinculada a Gil? Por quê?
Caetano – Vendo Gil tocar na TV baiana, me surpreendi com a possibilidade de que alguém tão próximo (Salvador era uma cidade pequena em 1963) pudesse tocar violão com tanta riqueza e inventividade. Quando o encontrei pessoalmente, ficamos logo amigos e eu aprendi tudo o que sei sobre acordes olhando as mãos de Gil sobre as cordas e os trastes. Depois, quando eu, sabendo que meu talento musical é limitado e muito inferior ao de colegas como ele, Milton, Djavan ou João Bosco, quis deixar de fazer música profissionalmente, Gil me disse que não, que, se eu deixasse, ele também deixaria. E ele era a música para mim.

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