Preta, preto, pretinhos https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br Novidades da comunidade negra no Brasil e no mundo Thu, 09 Dec 2021 15:45:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Bolo, nada! Feijoada: Tia Surica celebra 80 anos com CD e ação gastronômica https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/2021/06/21/bolo-nada-feijoada-tia-surica-celebra-80-anos-com-cd-e-acao-gastronomica/ https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/2021/06/21/bolo-nada-feijoada-tia-surica-celebra-80-anos-com-cd-e-acao-gastronomica/#respond Mon, 21 Jun 2021 21:29:09 +0000 https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/Surica_destaque-320x213.jpg https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/?p=1717 Tia Surica deixou que o tempo ditasse o ritmo dos seus festejos quando completou 80 anos. A data chegou em 17 de novembro do ano passado, mas a celebração acontece só agora – em compensação, foi planejada não para um único dia, mas para um mês. E não apenas ela ocupa o centro da comemoração, mas uma série de restaurantes do Rio de Janeiro e de São Paulo.

A histórica pastora da Portela, nascida Iranette Ferreira Barcellos, está lançando “Conforme eu sou”, CD com interpretações suas de Manacéa (1921-1995), um dos pilares históricos da escola e que a levou para a Velha Guarda. Além das 11 canções do compositor, Tia Surica também canta “Volta, meu amor”, feita em parceria entre Manacéa e a filha do músico, Áurea Maria.

Fiel ao talento vocal e culinário que a caracteriza – sua feijoada é um dos patrimônios cariocas -, ela decidiu aliar sua novidade musical a uma ação de fortalecimento de seis restaurantes no Rio e em São Paulo. O objetivo é contribuir para manter os locais com bom volume de pedidos apesar da pandemia.

CD traz interpretações para canções de Manacéa (Foto: Thais Monteiro/Evo Mídia/Divulgação)

Em funcionamento até o final deste mês, quem quiser participar do combo proposto pela artista para nutrir o paladar e a audição deve encomendar uma refeição nos estabelecimentos parceiros da pastora e, pagando mais R$ 30, receber o CD junto com o pedido.

Para comprar apenas o CD, diretamente, Tia Surica vende o álbum através do e-mail tiasurica80@gmail.com.

Os restaurantes e pratos que participam do projeto são:

No Rio:
Chef Lenaide Mota – quitutes baianos
Área de atendimento: Zona Sul, Barra da Tijuca, Recreio, Vargem Grande, Vargem Pequena, Madureira, Oswaldo Cruz, Marechal Hermes, Irajá, Cascadura, Sampaio, Quintino, Engenho de Dentro e toda a região de Jacarepaguá
Pedidos: 21 97013-1575

Casa Porto – feijoada
Área de atendimento: Da Gávea/Leblon até o Méier. Entrega grátis para o Centro, Região Portuária, Lapa, Bairro de Fátima, Glória, Catete, Flamengo e Estácio
Pedidos: 21 99815-1568

Em São Paulo:
Sparky’s – montadinho árabe
Área de atendimento: Centro, Jardins, Zona Oeste, Zona Norte
Pedidos: 11 97318-3469

Chef Thaís – entre as especialidades, doces como o brigadeiro de dendê
Área de atendimento: Mooca, Aclimação, Ipiranga, Vila Prudente, Sacomã, Ibirapuera, Saúde, Vila Mariana, Vila Clementino e Moema
Pedidos: 11 95052-6577

Chef Domenica/Casa Mariinha – feijoada
Área de atendimento: Zona Leste e Guarulhos
Pedidos: 11 98630-6879, 11 2667-2077

Chef Mônica – macarronada com frango assado
Área de atendimento: Vila Andrade, Jardim São Luís, Jardim Monte Azul, Terminal João Dias, Parque Regina, Parque Arariba, Jardim Maracanã, Terminal Capelinha, Campo Limpo, Metrô Capão Redondo, Jardim Taboão, até o número 2000 da avenida Giovanni Gronchi
Pedidos: 11 95109-6831 e 11 99289-5947

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Caetano Veloso: “O samba nos dá força e identidade” https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/2017/03/09/caetano-veloso-o-samba-nos-da-forca-e-identidade/ https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/2017/03/09/caetano-veloso-o-samba-nos-da-forca-e-identidade/#respond Thu, 09 Mar 2017 23:06:49 +0000 https://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/carlinhos-caetano-teresa-rafael-berezinski-preta-180x120.jpg http://pretapretopretinhos.blogfolha.uol.com.br/?p=314 Em meio à etapa sul-americana de “Caetano Apresenta Teresa” –show que acaba de sair do Uruguai rumo ao Chile, e em que o cantor e compositor baiano sobe ao palco ao lado de Teresa Cristina e Carlinhos Sete Cordas–, o artista conversou com Preta, Preto, Pretinhos sobre música, o “momento sombrio” do Brasil, Gilberto Gil e otimismo.

Caetano Veloso durante show agora em turnê pela América do Sul (Rafael Berezinski).

PPP – Aos cem anos de existência, quais as contribuições do samba para outros gêneros musicais e para a compreensão do brasileiro sobre sua história e cultura?
Caetano – O samba foi paulatinamente tomando o lugar de ritmo brasileiro por excelência e mesmo gênero que representa o Brasil. Isso teve a ver com os planos de Getúlio Vargas, o nosso ditador (depois presidente) populista. Mas os elementos estéticos e históricos do samba sustentam a ambição. O mito diz que ele nasceu na Bahia (como tudo no Brasil: os portugueses desembarcaram na Bahia, Salvador foi a primeira capital, lá se encontram as maiores relíquias arquitetônicas do período colonial e os mais importantes centros religiosos de origem africana). É fato que no Rio, que veio a ser capital do Império e da República, o samba teve desenvolvimentos que configuraram sua natureza hoje reconhecível. Tendo as mais potentes emissoras de rádio do país e as revistas de circulação nacional, o Rio divulgou intensamente sua cultura através das décadas. Há manifestações musicais nordestinas, nortistas, centro-ocidentais e sulistas de grande força. Mas o samba ganhou o lugar central. Ele nos dá força e identidade. Mitos são assim.

PPP – A turnê com Teresa Cristina começou no ano passado e, além do Brasil, já passou por EUA, Europa, Ásia, agora está na América do Sul. O repertório une Cartola e músicas suas que não cantava há algum tempo. Isso vai mudando ao longo das viagens?
Caetano – O repertório de Teresa não mudou. O meu, às vezes, muda um pouco: canto sozinho com meu violão e posso decidir um dia cantar algo que não vinha cantando antes. Mas a base geral permanece a mesma.

PPP – Quais são seus compositores e intérpretes de samba preferidos? Por quê?
Caetano – Wilson Baptista, Noel Rosa, Dorival Caymmi, Geraldo Pereira, Assis Valente, Tom Jobim, Carlos Lyra, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Jorge Ben, Gilberto Gil, Djavan, João Bosco & Aldir Blanc, Arlindo Cruz, Ary Barroso, Nelson Cavaquinho, Cartola, Ivone Lara, Bororó. Isso para só dizer os nomes de autores que me vieram primeiro à cabeça. O próprio número explica quão difícil seria tentar dizer por quê.
Quanto aos intérpretes: João Gilberto, Roberto Silva, Elza Soares, Ciro Monteiro, Aracy de Almeida, Carmen Miranda, Elis Regina, Ângela Maria, Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Teresa Cristina. E mais.

PPP – Qual a importância do samba, em particular, e da cultura brasileira, em geral, para a difusão de um Brasil que pode legar ao mundo não só corrupção e outras mazelas, mas também valores positivos?
Caetano – O Brasil se considerava um país triste. Quando eu era menino, era consenso que éramos um país triste. A ideia, lançada no belo e famoso livro de Paulo Prado (“Retrato do Brasil”), de que o país se formou de “três raças tristes”, era difundida e nunca contestada. As letras das canções eram quase invariavelmente sobre amores fracassados (nisso éramos iguais aos nossos vizinhos latino-americanos e diferíamos do povo dos Estados Unidos). Acho que as coisas começaram a mudar no período da bossa nova. Letras de Vinicius de Moraes e até de Dolores Duran apresentavam situações de amor vitorioso ou feliz. Os jornais de cinema passaram a botar samba na trilha sonora das reportagens sobre jogos de futebol (essa mistura de futebol e samba foi algo que, viso primeiro nos cinemas, me deu a impressão de que o Brasil seria capaz de crescer, enriquecer e brilhar).
Hoje vivemos, mais uma vez, a sensação de que nada de positivo somos capazes de produzir. Tenho uma reserva de otimismo maluco que me faz seguir vendo que, se chegamos a fazer coisas que críamos impossíveis para nós, perdemos o direito de dizer que certas coisas são impossíveis. Depois de descobrirmos que tudo é possível, não poderemos voltar atrás. Sei que estamos num momento em tudo é sombrio. Mas vejo Teresa sobre o palco, ouço o violão de Carlinhos Sete Cordas e retomo a esperança.

PPP – Você disse recentemente que, sem Gil, não estaria fazendo música. Sabemos da relação profunda entre os dois, da sua paixão por seu domínio do violão. Mas a sua permanência na música também está vinculada a Gil? Por quê?
Caetano – Vendo Gil tocar na TV baiana, me surpreendi com a possibilidade de que alguém tão próximo (Salvador era uma cidade pequena em 1963) pudesse tocar violão com tanta riqueza e inventividade. Quando o encontrei pessoalmente, ficamos logo amigos e eu aprendi tudo o que sei sobre acordes olhando as mãos de Gil sobre as cordas e os trastes. Depois, quando eu, sabendo que meu talento musical é limitado e muito inferior ao de colegas como ele, Milton, Djavan ou João Bosco, quis deixar de fazer música profissionalmente, Gil me disse que não, que, se eu deixasse, ele também deixaria. E ele era a música para mim.

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