Denise Mota
Lá em casa, eu sou a “Nêga”, apelido que ganhei quando nasci. Na infância, também fui a “Piky Roxa”, porque, “de tão pretinha, era quase roxa”, como não se cansava de contar deliciosamente, entre risos e cafunés, uma das minhas primas mais queridas.
Ser bem pretinha, ter o cabelo “pixaim mesmo” era uma das características da minha tataravó, avó do meu avô que fundou uma comunidade de santo no interior de Sergipe e que é uma figura mítica na família. Flutuou sobre minhas fantasias de criança, tanto como a Cinderela ou a She-Ra. Referência onipresente de empoderamento negro e feminino, muito antes que eu soubesse que essa palavra existia.
Além de preta, paulistana, filha de uma sergipana e de um baiano, e tataraneta da Mulher Maravilha, sou jornalista há mais de 20 anos. Tenho um mestrado pela USP em integração econômica regional e publiquei o livro “Vizinhos Distantes: Circulação Cinematográfica no Mercosul” (ed. Annablume). Moro no Uruguai há uma década e mantenho contato com “primxs”, “hermanxs” e “sisters/brothers” que vivem realidades diferentes, mas desafios semelhantes, e que são testemunhas de uma cultura negra que pulsa vigorosamente em todo o planeta.