“Nos Jogos Olímpicos, vou representar a população marginalizada”, diz Elza Soares
Daqui a três dias, Elza Soares levará seu scat ao palco dos Jogos Olímpicos. Depois disso, ela quer levar música, mas também luz e esgoto para a ocupação CentreVille, em Santo André (SP).
Estar na abertura dos Jogos, depois de haver cantado o Hino Nacional nos Panamericanos em 2007, será uma “honra” renovada, conta Soares ao blog. “Não apenas por eu estar ali, mas por estar como representante de uma fatia da população que é marginalizada e está longe de ser a minoria. É o que me motiva a aceitar o convite: representar as mulheres, os negros, os gays.”
Depois de uma carreira de mais de seis décadas, ela considera estar “no momento de maior reconhecimento” de sua trajetória, após decidir cantar inéditas em “A Mulher do Fim do Mundo”, considerado o melhor disco de 2015 pela “Rolling Stone”: “Esse álbum me colocou em outro lugar”, afirma. No CD, a interpretação rascante de Elza se encontra com o relato de realidades duras permeadas por violência doméstica, dependência de drogas, racismo, homofobia. No início, a ideia era que o projeto tratasse de sexo e negritude. Acabou sendo um panorama maior de questões que a preocupam e que ela sentia a necessidade de abordar.
“Preconceito não tem endereço”
Em outubro, a cantora deve gravar o DVD do álbum “A Mulher do Fim do Mundo” na comunidade CentreVille e deseja deixar efeitos permanentes por lá. Com esse objetivo, abriu um financiamento coletivo no Kickante. “Mas isso só será possível se atingirmos a meta. Será uma apresentação para 10 mil pessoas em um campo que tem lá. Levar o repertório do disco para um lugar como esse é muito tocante. É a minha raiz”, afirma.
Soares também conversou com o blog sobre violência policial, confrontos de ordem racial no Brasil, nos EUA. “A carne mais barata do mercado é a carne negra, não é? E esse preconceito não tem endereço: é em Dallas, no Rio de Janeiro, em qualquer lugar do mundo. Fico muito abalada com o noticiário. Vi que uma mãe morreu de tristeza aqui no Rio de Janeiro após a morte do filho adolescente, um negro bonito que teve o carro acertado por 111 tiros da PM. Como não ficar chocada com isso?”
Mas a cantora considera que há esperança, quando encontra cabeças e espaços interessados em combater esses problemas. “Atualmente a história do Brasil passa como um filme na minha cabeça e vejo situações muito sérias se repetindo. Problemas sociais, principalmente. Mas não posso ser pessimista. Ver esse meu trabalho, que tem um discurso forte, ser tão bem aceito pelo público, pelos jovens e pela mídia especializada, é esperançoso.”