Dream Team do Passinho: “A favela é rica. E muito pouco aproveitada”
O passo pode ser pequeno, mas a velocidade é grande. A carreira dos garotos do Dream Team do Passinho vai avançando rápido: estiveram na abertura das Olimpíadas, continuam em eventos no Boulevard Olímpico (na competição Passinho de Ouro, onde se apresentam no Porto Maravilha em 20 de agosto) e permanecerão sob os holofotes no Rio, nas Paraolimpíadas. Também são a voz de uma campanha do Fundo de População das Nações Unidas, de combate ao zika por meio da conquista de mais direitos para a população, especialmente a negra e de baixa renda. A trilha sonora da iniciativa é a música “Mais Direitos, Menos Zika”.

Os meninos vivem o que cantam. Lellêzinha –que, ao lado de Diogo Breguete, Hiltinho, Pablinho e Rafael Mike, forma o quinteto– anda particularmente feliz, por exemplo, porque pela primeira vez, conta, o Passinho de Ouro tem uma categoria exclusiva para meninas. No entanto, outras realidades, como a violência, continuam a ser preocupação permanente e parte do cotidiano dentro e fora dos palcos. Hiltinho, por exemplo, já foi alvo de abordagem policial violenta. Em 2014, o grupo fez uma performance-protesto quando Eric Garner foi sufocado por policiais em Nova York.
“Quem mora na favela sofre com a violência todos os dias. Só que apenas alguns casos passam na TV”, comenta ela. “Precisamos respirar. E precisamos falar de racismo, intolerância e violência institucional. Usamos a nossa arte para falar.”
Rafael Mike complementa: “A gente troca muitas ideias sobre a condição social do negro em muitas esferas. A favela é rica e é muito pouco aproveitada, e ainda é mal vista. As comunidades têm pouco suporte político e as pessoas que moram nela são classificadas da pior forma. A marca do favelado era para ser outra. A marca da favela tinha que ser o desafio diário e heroico que essa gente enfrenta na tentativa de desenvolver suas vidas sob tanta dificuldade. Com tantos obstáculos”.
Essa é a mensagem que mais se preocupam em passar, afirmam. “Quando colocamos os pés em Nova York, na São Paulo Fashion Week, no Rio Moda Rio, quando aparecemos na TV, levamos a favela conosco e despertamos na menina e no moleque preto favelado a possibilidade de sonhar e buscar caminhos para esse sonho”, diz Rafael.
“Todos somos de comunidade e todos os dias convivemos com questões que são responsáveis por atrasar, distanciar e afastar o preto de boas oportunidades. Somos referência, sabemos dessa responsabilidade. Tentamos deixar uma mensagem de reflexão para essa geração que está chegando cheia de gás e doida para mudar o mundo. Quem vai mudar o planeta são eles! Se a gente conseguir contribuir para o empoderamento da negrada, principalmente da mulher negra, vai ser lindo e estimulante para a nossa vida!”
“Vai Dar Ruim”
O grupo vem conquistando fãs como o ator Lázaro Ramos, que dirige o clipe da recente “Vai Dar Ruim”, e o fotógrafo Bob Wolfenson. “Vai Dar Ruim” marca “uma nova etapa”, segundo Lellêzinha. Encarna a “inteligência da favela”, algo que dá o tom e faz a diferença nesse novo momento do grupo, segundo contam ao blog.
“Vai Dar Ruim” é uma expressão que pode significar algo muito bom ou horrível, dependendo do contexto. “É nossa aposta”, diz Lellêzinha. “Na nossa música tem significado de dar muito certo. É uma gíria da favela que carrega a inteligência da favela. Você precisa estar ligado no contexto e na forma como isso está sendo usado para entender se é bom ou ruim. Se piscar, entende exatamente o oposto.”
Para Rafael, o que vem levando o Passinho para a frente é a “ralação focada”. “Queremos a mesma coisa. Somos uma família. Quando amamos o que fazemos e trabalhamos nos divertindo, dificilmente a coisa dá errado. ´Vai Dar Ruim` traz outra vibe nossa, de moda, de alegria… É um Dream Team mais maduro… É uma outra ´tiração` de onda!”