Seu objetivo era “empoderar as mulheres”. Ele queria fazer “a diferença”. Os dois terminaram casados e na Casa Branca, como todo o mundo sabe. Mas o que “Southside with You” (algo como “A zona sul com você”, uma referência ao fato de Michelle ser dessa região da cidade de Chicago) tenta é mostrar o que poucos sabem: como um jovem advogado desengonçado conhece e conquista uma advogada durona para formar com ela o casal mais poderoso do planeta.

A narrativa (veja o trailer), dirigida por Richard Tanne, retrata um dia do verão de 1989, em que Barack e Michelle transitam do contato profissional ao idílio amoroso. O filme tem o curioso timing de ser uma cinebiografia romântica a respeito de um mandatário ainda no cargo e em plena campanha para emplacar seu sucessor, Hillary Clinton. Seria como ter no Brasil uma biografia de “Lula e Marisa”, ou de “Fernando e Ruth” no final das gestões dos ex-presidentes.

Apesar de trazer passagens que refletem o característico humor dos Obama (como quando Michelle elogia as orelhas do futuro namorado, ao lembrar que elas “não ficam bem em Dumbo”), o que alguns dos principais jornais norte-americanos vêm apontando é o tom laudatório da produção e a falta daquilo que seria seu maior trunfo: novidade real em relação a um casal onipresente na cena mundial.

Para o “Washington Post”, Michelle é retratada como uma mulher mais tensa do que realmente seria, apesar de reconhecer que o trabalho de reconstrução se baseia em passagens contadas pela própria primeira-dama em diversas publicações, como a revista “Variety”, e por Obama em seu livro “The Audacity of Hope” (A audácia da esperança).

Em “Southside with You”, escreve o “New York Times”, Tanne “confunde crença com verdade”. “Na maior parte do tempo, o filme só traça um caminho para a Casa Branca”, define, sobre uma produção mais dedicada ao “homem que seria grande” do que ao romance em si. Obama ainda não deixou a Presidência, “mas a hagiografia já começou”, considera.