Eles querem saber do que você gosta

O que era a busca de um meio imediato de sobrevivência se transformou em um dos pontos de encontro mais importantes do Brasil para que empresários negros se conheçam e mostrem seus negócios. A Feira Preta existe há 14 anos e deu outros frutos, como a Black Codes, empresa que vem realizando pesquisas de mercado e que presta assessoria a multinacionais como Google e Avon sobre o consumo dos afrobrasileiros. Às vésperas do Natal, onde a propaganda é irrefreável, e o consumo, acelerado, explicar o que quer e do que precisam os 54% de brasileiros que se definem como negros ou pardos é o principal trabalho da companhia.

“Em 2002, estava desempregada e comecei a participar de feiras de rua vendendo e trocando minhas roupas. Montei o Brechó da Troca e participei de muitos espaços de exposição. Logo percebi a necessidade de termos uma feira étnica, pois, como negra, percebia a falta de expositores negros e produtos segmentados nesses eventos”, conta ao Preta, Preto, Pretinhos Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta e da Black Codes.

Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta e da Black Codes (Divulgação).
Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta e da Black Codes (Divulgação).

Adriana decidiu olhar de perto um mercado e tanto: segundo a empresária, citando levantamento do instituto Data Popular, a população negra no Brasil é responsável por movimentar mais de R$ 600 bilhões por ano. “Quem não dialogar com esse público de maneira qualificada vai ficar para trás. Talvez essa seja a maior particularidade desse público que foi invisível por muitos anos: ele se fideliza quando estabelecem um diálogo com ele.”

Trabalho de base

A lupa que começou a ser construída com a Feira Preta ganhou outras dimensões para que aspectos mais gerais de autopercepção e preferências de consumo negras pudessem começar a ser conhecidas pelo mercado de publicidade e comunicação. “Observamos o amadurecimento no universo de consumo junto a essa população em alguns segmentos como beleza e bem-estar, serviços, bens duráveis, moda e estatal”, conta Adriana. “A comunidade negra agora tem mais acesso à informação, maior grau de escolaridade e maior renda. E, quanto maior é a representatividade, o fortalecimento e o reconhecimento de sua identidade, maior será a demanda e o consumo de produtos que atendam a sua especificidade.”

Ajudar a desconstruir “um modelo universal de consumidor que é branco”, para mergulhar na idiossincrasia negra, é a mola central da empresa. Com a iniciativa, Adriana saiu segunda colocada na competição de negócios do Inova Capital, promovida pelo BID em parceira com a Anjos do Brasil. O projeto capacita e impulsiona projetos de afrodescendentes (ver post “Programa do BID apoia empreendedores negros“).

“Temos que fazer um trabalho bem de base quando chegamos nas empresas. Precisamos explicar todo um universo que a maioria não vive porque esses espaços são também prioritariamente brancos e masculinos”, descreve Adriana. “Uma pesquisa recente do Instituto Ethos mostrou isso que já sentimos empiricamente há tempos. As 500 empresas participantes tinham juntas 1.162 diretores, entre eles 119 mulheres e apenas 6 mulheres negras. Um dos alertas que fazemos é da necessidade de se ter negros e negras nas equipes de criação e comunicação para facilitar esse diálogo com o público negro. Mostramos porque a inclusão é uma decisão acertada para o crescimento do negócio.”