Lista Negra espelha exército de empreendedores da Bahia
Midiã Noelle passa o tempo todo pela Linha 8, epicentro do fervilhante comércio ambulante da Liberdade, na capital baiana. Entre uma barraca e outra, a jornalista não desvia dos camelôs, pelo contrário: se interessa pelos projetos desses e de outros empreendedores do Estado em que nasceu.
Assim surgiu sua Lista Negra, vibrante site que espelha os mais diversos exemplos de criatividade e autonomia da Bahia.
“O comércio do bairro sempre foi muito ativo, mas sempre observei que as pessoas não se entendiam como donas dos próprios negócios. Ao falar ´sou ambulante`, ´sou camelô`, sempre percebia um tom de ´pouca coisa`, trabalho menor”, conta a jornalista. Isso fez com que decidisse criar um grande arquivo “de histórias de vida de empreendedores negros e consequentemente causar reflexão”. A começar pelo nome do site, claro, que subverte a percepção negativa associada à expressão “lista negra”.
Até agora, cerca de 30 empreendedores já entraram para a Lista Negra de Midiã e, por conta da iniciativa, ela foi incluída na lista de Mulheres Inspiradoras criada pela ONG feminista Think Olga, no ano passado.
“Gosto de dar o exemplo do Steve Biko, um dos primeiros perfilados. Um estudante de biotecnologia que ganhou R$ 2 milhões em editais, e a própria universidade onde estuda nunca tinha escrito nada sobre ele. Após o texto do Lista Negra, compartilhado em um portal de notícias local, tanto o jovem quanto a instituição de ensino ampliaram o olhar para o curso, que se tornou mais reconhecido. E isso consequentemente incentiva outras meninas e meninos pretos a pensarem: ´Eu posso ser um cientista. E mais: posso também ter uma empresa no ramo da ciência´. É uma iniciativa que soma a perspectiva social, econômica e política. Está tudo conectado.”
Mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia e assessora de comunicação de um programa governamental que atua com usuários de drogas em situações de vulnerabilidade, Midiã conta que está fazendo um levantamento de histórias em outros Estados para começar a compartilhar casos de empreendedores negros Brasil afora. A partir do segundo semestre, o site também deve desenvolver um projeto de conteúdos especiais em vídeos e de ampliação da participação de voluntários, em especial estudantes de jornalismo.
“Por mais irônico que pareça, me enxergo como midiativista, e não como empreendedora, e isso é algo que quero mudar”, pondera. “Precisamos aprender que preto e dinheiro combinam.”