Paula Lima: “Acredito na denúncia e na punição”
Depois de “Fiu Fiu”, canção de Pretinho da Serrinha (inspirada no movimento Chega de Fiu Fiu) em que Paula Lima manda um recado claro e cheio de swing para homens que confundem decote com convite, a cantora paulistana que é emblema do soul, do funk e do samba prepara, para este segundo semestre, o lançamento de outras duas músicas. Enquanto isso, também passeia pelo mundo com a turnê “Mil Estrelas”, que já passou por Japão, Estados Unidos e vários Estados brasileiros. No próximo sábado, ela leva o show ao Rio de Janeiro, dentro do festival X-Tudo Sesi Cultural.
Multifacética, Paula -também pianista e formada em direito- fez uma pausa na correria da agenda para conversar com Preta, Preto, Pretinhos sobre igualdade racial e de gênero:
EXEMPLOS
“Falar de empoderamento feminino é algo fundamental no meu trabalho. Nós, mulheres, exigimos respeito e direitos. Acredito na liberdade, na igualdade, no equilíbrio e na independência. Fui criada sob esse prisma. Estudar para conquistar de forma independente. Sempre me disseram: ´Você pode ser o que você quiser. E como negra encontrará obstáculos e preconceitos, mas siga em frente sem olhar para trás`. A mulher está em segundo plano no mundo e a mulher negra em terceiro. Só conheci mulheres fortes e inspiradoras: minha mãe, que é professora; minha tia socióloga e minha tia e madrinha muito culta e inteligentíssima, formada na faculdade de enfermagem. Todas as minhas primas são formadas e independentes. Então esses são os meus exemplos, minhas inspirações e minhas alegrias. Hoje discutimos os nossos problemas de jornada dupla, salário diferente para a mesma atividade, violência, assédio, violência doméstica e psicológica. E esse tipo de discussão e informação ajuda outras milhares de mulheres! Espero que a minha música “Fiu Fiu”, grão de areia diante de tudo isso, faça diferença e provoque reflexões.”
“A VIDA É CURTA DEMAIS PARA TANTA IGNORÂNCIA”
“O que percebo é que o mundo está tristemente equivocado em muitos sentidos: racismo (por causa da cor da pele?), homofobia e preconceito em relação à diversidade e a todas as outras opções. Posse em relação a mulher? A mulher negra, que está um último lugar nessa escala, ainda é vista como exótica e como objeto sexual pela cultura implantada desde a escravidão. E existe um ranço e algo intrínseco na sociedade. Mulheres negras morrem de câncer no útero ainda porque alguns médicos (responsáveis pela vida) têm nojo de examinar. O negócio é profundo e muito sério. A evolução existe, mas está muito lenta num aspecto total. Acho a vida valiosa demais e curta demais também para tanta ignorância e perda de tempo. Somos todos iguais. Nascemos e morremos da mesma forma. A ignorância e a maldade me assustam. As pessoas ainda se sentem superiores umas às outras de várias formas. Acredito na denúncia e na punição. E, discutindo também abertamente sobre tudo isso, com certeza algumas cabeças você muda, que mudarão outras tantas cabeças. O melhor da vida ainda é ser livre e feliz.”
Paula Lima
15 de julho, sábado, às 19h30
Festival X-Tudo – Sesi Cultural
Teatro Sesi Centro – av. Graça Aranha, 1, Centro, Rio de Janeiro