“Intelectuais Negras Visíveis” ou um catálogo para o “desensinamento”

Denise Mota

Reflexões, narrativas, propostas, demandas, trajetórias ecoam vozes múltiplas, mas sempre em primeira pessoa. Olhares “de dentro”, experiências vivas e cotidianas se interconectam no catálogo “Intelectuais Negras Visíveis“, lançado na Flip este ano e que está online.

O propósito central da publicação, gestada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras, da UFRJ, ou o fio da meada para entender a partir de onde se propõe o diálogo, fica explícito já na capa: “Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando a sua própria história”.

No catálogo, Giovana Xavier, coordenadora do Grupo de Estudos, organizadora e responsável pelo projeto editorial, fala da capacidade de um projeto assim “valorizar potências”, em uma “aposta na coletividade como fator indispensável para grandes transformações”.

Luciene Lacerda, psicóloga, pesquisadora, mestre em saúde coletiva, é uma das 153 integrantes do catálogo (Reprodução)

“Intelectuais Negras Visíveis” é um compêndio onde se encontra um pouco do trabalho de mulheres atuantes em áreas que estão divididas em Academia e Pesquisa, Afroempreendedorismo, Artes Visuais, Artes – Cinema, Dança, Música, Teatro e TV, Coletivos de Mulheres Negras, Comunicação e Mídias, Direitos Humanos, Educação Básica, Intelectuais Públicas, Literatura, Educação Básica, Saúde.

A seleção, conta a equipe de pesquisa, é fruto de um trabalho coletivo e de depuração em reuniões semanais durante seis meses, acompanhado por um comitê consultivo de especialistas. Entre os critérios, a busca por refletir diversidade etária, regional, de classe, de gêneros e sexualidades. Neste primeiro volume, a obra traz 153 profissionais de todas as regiões do Brasil.

Tantos exemplos reunidos mostram e estimulam muitos caminhos, oferecem variados espelhos e permitem o contato imediato com mulheres que criam, em seu dia a dia, a possibilidade de novos mundos. Diz Giovana Xavier: “Também é uma obra concebida como política de desensinamento dos lugares esperados para mulheres negras no país”.