Aos 21 anos, Laetitia Ky já é uma referência entre gente sintonizada nas expressões que habitam a convergência entre estilo, arte e discussões de teor político e social. A artista da Costa do Marfim, que na verdade quer ser estilista, transforma seus cabelos em esculturas que vão desde corações e saudações roqueiras a manifestos contra o uso de armas e abuso sexual.

Em meio ao compartilhamento massivo de experiências de violência sexual motivadas pelo movimento #MeToo, por exemplo, Laetitia postou na sua conta do Instagram uma escultura em que um homem levanta a saia de uma mulher, além de uma mensagem em que convidada outras mulheres a se pronunciarem sobre o tema. “Fale e comece uma revolução. É preciso falar para que as coisas mudem”, escreveu.

A escultura de Laetitia em alusão ao abuso sexual (Reprodução/Instagram)

A artista também brinca –como várias de nós, mulheres, quando não conseguimos o efeito esperado nos nossos penteados– que seu cabelo tem vida própria. “A alma do meu penteado se materializa e se rebela contra mim. Quer assumir meu lugar e se tornar a escultora! Quem é melhor? Eu? O meu cabelo?”, se diverte.

Laetitia começou a fazer tranças aos cinco anos, depois de aprender os primeiros passos dessa arte com a mãe. O objetivo de mostrar o cabelo afro como uma fonte inesgotável de criatividade e beleza, além de fazer da cabeça um espelho mutante de autoestima, é a mensagem subjacente a todos os seus trabalhos, que levam entre 20 minutos e duas horas para serem concluídos.

A artista tem como inspiração os estilos de penteado e trançado africanos tradicionais unidos a construções complexas compostas por arame, algodão, extensões capilares e tecidos.