Outra face de Carolina de Jesus chega à sua Minas Gerais natal: “Mulher forte e dona do seu destino”, descreve biógrafo
“Carolina – Uma Biografia” amplia as dimensões de Carolina Jesus não só no âmbito da literatura mas também como um mergulho nas vicissitudes da sociedade brasileira, com suas contradições, preconceitos, violências, lutas e misérias. O livro chega esta semana à Minas Gerais natal da escritora (veja datas e locais de lançamento abaixo) e compõe um retrato que encontra eco no cenário contemporâneo nacional – Carolina nasceu em um 14 de março, mesma data do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, recorda o autor da obra, Tom Farias.
“Esse livro visa mostrar uma personagem desconhecida do grande público, no sentido da sua atuação social, política e cultural antes e depois do célebre livro ´Quarto de Despejo` e de sua vida na favela do Canindé… Quis resgatar a história de uma mulher negra, mãe de três filhos, e a fantástica trajetória literária que a colocou no topo da literatura brasileira e mundial”, explica o escritor.
Nesse processo, o biógrafo fez diversas viagens a Sacramento (MG), onde a autora nasceu, e se aprofundou em uma pesquisa de documentos e vivências que lhe revelaram uma pessoa “muito diferente, mais rica e mais apropriada do seu valor como escritora, intelectual e mulher negra”.
A literatura foi o passaporte de Carolina para sair da pobreza, após ser revelada por Audálio Dantas, então repórter da “Folha da Noite”, recentemente falecido. Mas Farias enfatiza que ela já tinha 20 anos de atividade literária nesse momento e que “não foi essa mulher ingênua que saiu da favela miserável e morreu pobre”: “Ela traçou sua trajetória, sabia o que ia enfrentar. Recebeu o título de ´Cidadã Paulistana` em 1961, foi homenageada pela Academia de Letras da Faculdade de Direito, mas, quando viu que a coisa podia não ir para a frente, comprou um sítio em Parelheiros, para plantar e criar seus bichos”.
Outro objetivo da biografia é refutar a imagem de “louca e irresponsável”, como diz o autor, segundo a pluma da imprensa pós 1964. “Queria quebrar certos estereótipos, por exemplo sobre suas relações afetivas com os pais dos seus filhos e com seus filhos, sua vida na favela e fora da favela, suas andanças.”
As opiniões e escritos de Carolina sobre o uso de álcool, sua militância política, ao lado de personalidades como Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Carvalho Pinto e Leonel Brizola, também são parte da obra.
A biografia é parte de uma iniciativa da Editora Malê de fomentar a diversidade na literatura brasileira. O projeto parece se encaixar à perfeição no que Farias quis exemplificar com a trajetória da sua biografada: “Carolina deixou mais de cinco mil páginas manuscritas, produziu romances, muita poesia, letras de música (chegou a gravar um disco pela RCA Victor), provérbios, contos, crônicas e reportagens. Sua aventura pelo mundo das letras não foi em vão”.
Carolina – Uma Biografia
Lançamento em Minas Gerais:
8/6, às 10h, Faculdade de Letras da UFMG (av. Pres. Antônio Carlos, 6627 – Pampulha, Belo Horizonte)
9/6, às 10h, Livraria da Rua (r. Antônio de Albuquerque, 913 – Funcionários, Belo Horizonte)