Conheça o ´forrócandombe`, união de ritmos do NE e dos negros uruguaios

A proximidade geográfica, as influências da cultura brasileira ao norte do Uruguai e os primeiros dias de calor são alguns dos fatores que fazem com que a música do Brasil ganhe maior presença no pequeno país austral no final do ano. Dessa vez, praias e praças de Montevidéu estão vendo o surgimento de uma invenção 100% binacional: o “forrócandombe”, mistura do tradicional ritmo nordestino, à base de triângulo, zabumba e sanfona, com os três instrumentos básicos do candombe, os tambores “chico”, “piano” e “repique”.

O candombe – expressão musical negra uruguaia chegada ao Rio da Prata com os africanos tornados escravos nesse lugar do mundo – costuma parecer aos brasileiros uma espécie de samba mais seco e ritmado dançado com os braços. E é a junção dessa sonoridade com o arrasta-pé verde-e-amarelo que vem atraindo uruguaios e estrangeiros que visitam a capital uruguaia.

A mistura é apenas uma das manifestações de um movimento mais amplo chamado Forró Montevideo, a partir do trabalho conjunto de uma bailarina e professora de forró, atriz e produtora de eventos – Lia Machado – e de Alberto Carneiro – uruguaio de Rivera (na fronteira com o Brasil) que lidera a banda de forró Papo Furado.  Com a intenção de proporcionar música ao vivo aos encontros que Lia organiza pela cidade, Alberto convidou amigos “candombeiros” para “brincar” com os ritmos e assim surgiu o “forrócandombe”.

O Forró Montevideo reúne dançarinos, músicos e alunos do ritmo no Uruguai (Reprodução/Facebook).

Há três anos no Uruguai, Lia conta que, a princípio, sua ideia era apenas dar aulas e, assim, reunir parte da comunidade brasileira “saudosa” do ritmo nordestino. Mas o interesse acabou sendo maior, e mais variado. “Começamos com um grupo pequeno, de 10 pessoas. Hoje os uruguaios são 90% dos alunos. Também temos alemães, australianos, pessoas do mundo todo. Crescemos um 2000%”, afirma.

Além do sexteto que conforma a banda Forrócandombe, também são parte do coletivo professores que chegam do Brasil e da Argentina para oferecer reciclagem e novas formas de dançar forró aos alunos mais avançados do grupo. Hoje em dia, o Forró Montevideo é presença constante em praças, praias e feiras da capital uruguaia.

A bordo do novo ritmo, também chegou um novo jeito de dançar. Forrócandombe se dança como forró ou como candombe? Alberto Carneiro ensina: “Dá para dançar sozinho ou com um par. No nosso grupo temos uma bailarina uruguaia, Micaela, que dança muito bem candombe, e Tadeu, um brasileiro muito particular, que dança muito bem forró e que não perde uma apresentação de candombe aqui. Os dois se uniram para dançar naturalmente pela primeira vez em uma aula, e costumam juntar um passinho de forró básico, para a frente e para atrás, com os movimentos de ombros do candombe. Às vezes dançam separados, às vezes, juntos. Muito mais fácil e natural do que se possa imaginar”.