Polirrítmico e transatlântico, Höröyá apresenta terceiro álbum no Ibirapuera

Eles são nove integrantes, entre músicos brasileiros e senegaleses, que mesclam sonoridades transatlânticas e residem em São Paulo. O milagre cotidiano do Höröyá é traduzir toda essa polifonia na harmonia vibrante e criativa de trabalhos como “Pan Bras´Afree´Ke Vol. 2”, disco que a banda lança e apresentará em show no Auditório Ibirapuera neste sábado (30).

Dos toques de afoxé aos griots, passando pelo jazz e pelo funk, o grupo, criado pelo músico e produtor paulistano André Piruka, une referências musicais da umbanda, do candomblé, de rodas de samba, da capoeira e de culturas do oeste africano. A cada álbum, são convidados da banda artistas de Mali, Burkina Faso, Guiné, em um processo criativo que ultrapassa uma década. Já desde o nome, a intenção de aprofundar laços intercontinentais fica clara: “Höröyá” significa “liberdade” e foi uma palavra que simbolizou a luta anticolonial na Guiné.

O grupo paulistano Höröyá (Antonio Brasiliano/Divulgação)

“As composições nascem quase sempre pela percussão. Primeiro crio um ritmo e sua estrutura, e depois seguimos para o campo harmônico/melódico, que é o processo inverso do pensamento ocidental, e isso é bem evidente para os mestres africanos. Conceitualmente trabalhamos com ´antigas, novas e possíveis tradições`, no sentido de que soar juntos ngoni e cello, dununs e berimbau, zabumba e djeli ngoni são proposições profundas dentro de um pensamento de culturas negras”, conta o idealizador do projeto ao blog.

A ponte transatlântica trouxe um estreitamento da amizade com Famoudou Konaté, que hoje apadrinha a banda. Konaté é uma sumidade musical da Guiné e mestre do djembê reconhecido em todo o mundo. O músico participa do novo disco do Höröyá, honraria que dispensa pela primeira vez a um álbum que não seja o seu, segundo afirma Piruka. “É um mestre de vida, exemplo de humildade e compromisso com seu caminho, origem e história.”

Uma característica que se destaca no trabalho do grupo é capacidade de compor uma sonoridade plural, mas própria – o que é a essência de sua formação -, sem que essa polirritmia afete o esforço de deixar todas as influências expostas no produto final.

O efeito é fruto da compreensão de que “as culturas de matrizes africanas são tradicionalmente modernas, sempre em transformação”, nas palavras de Piruka. “A banalização das culturas em prol do entretenimento é muito grave. É necessário que o Brasil, maior país escravocrata e genocida da América, conheça e se aprofunde em sua história, em sua complexidade. Tirar o ´africano` do exótico, do lugar mítico, e sim trocar e criar”, reflete. “O cenário político é deplorável. Majoritariamente vai contra tudo o que somos e acreditamos. Mas dias melhores virão e seguimos na luta, cada um a seu modo.”

Höröyá – lançamento do álbum “Pan Bras’Afree’Ke Vol. 2”
Dia: 30 de março, às 21h
Onde: Auditório Ibirapuera – av. Pedro Álvares Cabral, 0, Parque do Ibirapuera – Portão 2, São Paulo, tel. (11) 3629-1075; info@auditorioibirapuera.com.br
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)