Slam feminino chega à Flip e às livrarias

“Um caminho sem volta.” Assim é como Mel Duarte classifica o slam em geral, e o slam feminino – em particular -, que ganha espaço na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) neste ano. O festival promove uma batalha poética com autores nacionais e internacionais.

Organizadora de “Querem nos Calar”, livro no qual a poeta, escritora e slammer reúne 15 autoras das cinco regiões do Brasil para oferecer uma amostra da força dessa poesia falada, Duarte comemora com reticências a chegada do movimento a um espaço de prestígio como a Flip. Na coordenação das atividades de slam na cidade fluminense,  que inclui uma batalha aberta da modalidade na Casa da Cultura de Paraty (no dia 13 de julho), estará Roberta Estrela D´Alva, uma das autoras representadas no livro organizado por Mel e pioneira da “poetry slam” no Brasil.

“Para um movimento que existe há 11 anos na cidade de São Paulo, há três o slam vem tendo um boom, mas o mundo das letras ainda não está tão interessado”, conta a organizadora. “Ainda estamos buscando ocupar muitos outros espaços, existe uma certa rejeição da academia para esse movimento, mas estamos em um caminho sem volta, a poesia hoje passa por grandes mudanças, como toda a nossa geração, e estamos abrindo caminhos para uma nova cena na literatura.”

“A Garganta é a gruta que guarda o som.
A Garganta está entre a mente e o coração.
Vem coisa de cima, vem coisa de baixo e de repente: um nó.
E o que eu quero dizer…
Às vezes acontece um negócio esquisito:
Quando eu quero falar eu grito,
Quando quero gritar eu falo.
O resultado?
Calo.”

(Fragmento de “Garganta”, de Roberta Estrela D´Alva, em “Querem nos Calar”.)

Mel Duarte, slammer, organizadora de “Querem nos Calar” (Foto Bruno Fuji/Divulgação)

“Querem nos Calar”, nas livrarias, traz a realidade, o pensamento, as preocupações, a arte e as constatações (e contestações) de mulheres periféricas – geográfica, étnica, sexual e socialmente. O prefácio do volume é de Conceição Evaristo. “O objetivo do livro é apresentar uma parcela de escritoras que se descobriram e/ou se potencializaram através do slam. Somos muitas espalhadas no Brasil, produzindo e promovendo cultura. E é importante que registremos nossos nomes nesse universo tão seleto que é o da escrita”, diz Duarte ao Preta, Preto, Pretinhos.

Uma das integrantes do coletivo Slam das Minas SP, Mel Duarte comenta que essa vertente que trafega entre as letras e a oralidade, e que dá ferramentas de expressão para as mulheres, potencializa, justamente, “vozes, dentro de uma sociedade que quer nos oprimir o tempo todo e podar nossa palavra”. Hoje existem mais de 17 slams do gênero em todo o país, ela conta. “Este ano, realizamos o primeiro torneio nacional de poesia falada para mulheres e pessoas trans, temos uma rede extensa e, para além do slam, nos permitimos explorar a palavra e atuar com ela em diferentes esferas, possibilitando assim mais acessos ao nosso trabalho e ao movimento em geral.”

Uma delas é o tradicional festival literário e a velha e boa livraria, que passam a abrigar um pouco dessa produção vibrante no país.

Querem nos Calar
Mel Duarte (org.), com poemas de Anna Suav, Bell Puã, Bor Blue, Cristal Rocha, Dall Farra, Danielle Almeida, Ryane Leão, Letícia Brito, Luiza Romão, Luz Ribeiro, Mariana Felix, Meimei Bastos, Nega Fya, Roberta Estrela D´Alva e Laura Conceição.
Ilustrações: Lela Brandão
Editora: Planeta