Vem aí a Bienal do Livro da Quebrada: veja como participar

Cansados de se sentirem peixes fora das correntes dos eventos literários, representantes de diversas comunidades brasileiras estão se articulando para criar a Bienal do Livro da Quebrada.

A ideia é do “art´vista” Mateus Santana, de 27 anos, escritor e conhecido no Instagram por publicar seus textos na conta @textosdomateus. Morador de Taguatinga, cidade-satélite do Distrito Federal, Mateus conta que editores independentes e autores já se interessaram pela ideia, mas que apoios de escritores influentes e patrocínios são necessários para colocar o projeto de pé.

Na programação, que em seu primeiro ano deve ter como sede uma cidade do Nordeste (“Queremos sair ao máximo da lógica do eixo Rio/São Paulo”, explica), está prevista a realização de palestras e rodas de conversa com autores consagrados e periféricos, oficinas, arrecadação e doação de livros, batalhas de slam (poesia falada), feira para venda de livros e produtos artesanais, shows e concursos literários.

“As bienais acontecem sempre nos grandes centros. A distância geográfica e social afasta desses eventos as pessoas que moram nas periferias. Ainda que haja uma tentativa de inclusão, ela é feita de maneira que quem vem das periferias não se sente pertencente a esses espaços”, explicam os organizadores no material que está circulando nas redes com o objetivo de difundir a proposta e angariar apoios.

Não só na forma, mas também no conteúdo, as periferias não se veem representadas no cenário literário nacional. “Mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras entre 1965 e 2014 foram escritos por homens; 90% das obras, escritas por homens brancos, de classe média e do eixo Rio/São Paulo”, informa o documento, citando dados do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da Universidade de Brasília.

Mateus Santana, criador da Bienal do Livro da Quebrada (Reprodução)

Autor do livro “O Amor ao Próximo É Legalizado”, Mateus conversou com o Preta, Preto, Pretinhos sobre como está sendo idealizada a bienal e o que falta para que a “quebrada” se veja, se leia e se encontre através das letras.

PPP – O objetivo é que a bienal aconteça quando?
Mateus Santana – Inicialmente nós gostaríamos que a Bienal do Livro da Quebrada acontecesse paralelamente à bienal “tradicional”. Ou seja, a cada dois anos, mas nos anos ímpares à bienal. Sonhamos também que a Bienal da Quebrada possa compor a programação da Bienal tradicional.

Mas as atividades serão permanentes. Com esse projeto nós podemos executar anualmente diversas atividades. Como a arrecadação e doação de livros, os concursos literários, os slams, que terão seletivas nacionais, parcerias com municípios e escolas para levar atividades culturais, não só para o público jovem, mas para a comunidade em geral.

PPP – O que falta para isso?
Mateus Santana – As editoras e autores consagrados são fundamentais para a construção da Bienal da Quebrada. As editoras podem ajudar não só expondo na bienal, mas também entrando como apoiadores, como pontes para que escritores de periferia possam publicar seus livros. Os autores consagrados, além de popularizarem o projeto, podem também trazer sua experiência. Mas o protagonismo será majoritariamente para escritores vindos da quebrada, vindos das favelas e periferias. Porque a linguagem e os caminhos são diferentes e muitas vezes soam distantes da nossa realidade.

Onde saber mais:
Instagram: bienaldaquebrada
Twitter: @bienalquebrada
E-mail: bienaldaquebrada@gmail.com