Mangueira põe em circulação moeda própria durante encontro ´Negras em Ação`, neste sábado
Roda de samba, feira de produtos artesanais, exposição, shows e opções gastronômicas constituem encontro que acontece neste sábado (13) a partir das 9h na Mangueira, no Museu do Samba, para dar visibilidade a ações e empreendimentos de mulheres negras.
O evento não só aposta no fortalecimento de uma voz própria senão que terá uma moeda própria: o “zimbo”, com a qual será feita toda a comercialização do material das empreendedoras.
Com entrada gratuita, o “Negras em Ação” foi idealizado por Valéria Neves, ativista e coordenadora de Mulheres do Movimento Negro Unificado no Rio de Janeiro, que conversou com o Preta, Preto, Pretinhos:
PPP – Como vai funcionar o “zimbo” e por que ter uma moeda própria?
Valéria Neves – “Zimbo” é uma palavra africana que representa o conceito de dinheiro. Haverá um caixa para troca da moeda oficial pela moeda da feira. Toda a comercialização será feita com essa moeda. A ideia é que seja um elemento de troca mas também de poder e de representatividade. Numa moeda são geralmente retratadas pessoas ou fatos e datas de importância. A história do Brasil está repleta de mulheres negras valorosas, mas as instâncias formais nunca as valorizaram dignamente, elas nunca fizeram parte do panteão de representatividade em um elemento de valor monetário. Resolvi então reverenciar algumas dessas mulheres.
PPP – Qual o objetivo central do encontro?
Valéria Neves – As mulheres negras nunca aceitaram a opressão. Estiveram sempre lutando por igualdade para si e para a coletividade. Foram e permanecem sendo a base da pirâmide social no país. A luta é desigual e injusta, e é contínua. Por conta dessa perseverança, algumas mulheres negras conseguem entrar nos espaços de representatividade social e política. Mas é tolo achar que essa mínima representatividade consegue atender a demanda do coletivo de mulheres negras deste país. Como coordenadora estadual de Mulheres do Movimento Negro Unificado do Rio, encontro um quadro social difícil e dramático. Mulheres negras acima de 25 anos analfabetas. Mulheres negras jovens passando por dramas obstétricos que muitas vezes resultam em esterilidade. Mulheres negras vendo seu sangue esvair-se nas vidas perdidas de seus filhos. Mulheres negras com capacidades desconsideradas no âmbito profissional. Mulheres negras vitimadas por agressões e até pela morte sem receber do poder público e nem da sociedade interesse em sua defesa e proteção. Não existe ainda nem um partido sequer que tenha apresentado um projeto político que contemple o enfrentamento da questão racial.
Esse evento serve para mostrar que mulheres negras podem muito, a despeito das forças contrárias. Permanecemos lutando em diversas frentes. Há muito por fazer, a igualdade é fundamental para a sociedade como um todo.
Negras em Ação
Sábado, 13 de julho, das 9h às 18h
Museu do Samba – r. Visconde de Niterói, 1296, Mangueira, Rio, tel. (21) 3234-5777
Shows com o grupo Moça Prosa e Dayse do Banjo (a partir das 17h)
Veja a programação completa aqui