Rede Carioca de Rodas de Samba busca sustentabilidade e circuito permanente
Elas vieram, viram e estão vencendo. Elas são as rodas de samba do Rio de Janeiro, patrimônio e baluarte do cotidiano da população carioca. Através do trabalho em rede, essas agrupações vêm somando esforços para não perder a essência e crescer. Por isso, estão em um processo de acolhimento de interessados em fazer desse modo de interpretar e viver a vida um empreendimento estável e calcado no esforço e conhecimento de quem mantém essa tradição acesa durante os 365 dias do ano.
Também para alcançar esse objetivo, a Rede Carioca de Rodas de Samba se integrou ao programa de aceleração de startups, junto ao BNDES, com a “missão de construir um modelo de negócios que gere sustentabilidade, de forma independente. Nosso foco hoje é a institucionalização da rede e a captação de novos associados”, conta ao Preta, Preto, Pretinhos Marcelo Santos, porta-voz do coletivo.
Depois de um processo que chegará aos cinco anos em dezembro, já são 40 as rodas participantes desse núcleo, espaços que se distribuem ao longo de 27 bairros do Rio de Janeiro. Segundo dados da instituição, 500 mil pessoas recebem impactos econômicos diretos e indiretos das rodas mensalmente e R$ 1 milhão de reais é o que gera a cadeia produtiva vinculada a essa atividade nesse mesmo período.
“No momento estamos renovando nossas relações de associados, com o objetivo de atrair não só produtores de eventos, mas diversos tipos de empreendedores – músicos, expositores, fotógrafos, fornecedores etc. – que hoje vivem de eventos de samba no Rio”, conta Santos.
Ser parte da rede, ele detalha, traz como benefícios ao associado ter acesso a produtos, assessorias e serviços especializados de forma gratuita ou a preços populares, no que contribui para a sinergia dentro do projeto.
Relação “de nostalgia” com as escolas de samba
O representante da agrupação afirma que o empreendimento não se ressente dos cortes de verbas públicas que vêm afetando outra manifestação cultural emparentada com as rodas: os desfiles de escola de samba. “Como nós nunca tivemos nenhum tipo de subvenção, temos conseguido dialogar com todas as esferas de poder, em diferentes campos ideológicos. Exemplo de resultado de um diálogo suprapartidário que transitou bem nas duas últimas gestões do município, de Eduardo Paes até Marcelo Crivela.”
Os componentes das rodas não escondem uma espécie de frustração crítica com o que as escolas de samba se tornaram, em comparação com a ideia fundacional de saber e entretenimento concebida por Ismael Silva (1905-1978) no início do século passado. “As relações com as escolas de samba são individuais. O amor ao samba faz com que boa parte dos fundadores, coordenadores e associados (das rodas) continuem participando e trabalhando em desfiles de forma nostálgica, torcendo para que fundamentos originais voltem a ser referência no Carnaval carioca”, diz Santos.
Mas o grupo não está fechado e enfocado só no Rio. Em junho, a rede se encontrou com organizações que fazem trabalhos semelhantes em São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Ceará, na 2ª Conferência Internacional de Economia Criativa, em Fortaleza. “Temos a intenção de replicar nossa forma de organização para além do Estado do Rio de Janeiro e servir de exemplo para outros segmentos da cultura popular brasileira.”