Copacabana recebe Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa no próximo domingo
No próximo domingo (15), Copacabana se tornará o epicentro da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa que, em sua 12ª edição, chega com a expectativa de um público de 100 mil pessoas, com participantes convidados de vários Estados brasileiros. Como em anos anteriores, judeus, muçulmanos, umbandistas, budistas, católicos, ciganos, kardecistas, candomblecistas, evangélicos e adeptos de outras crenças se reunirão em prol da convivência e do respeito entre as diferentes profissões de fé.
A defesa do diálogo inter-religioso é parte da vida do babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e criador do encontro. Ele também lança o livro “Marchar Não É Caminhar” (Pallas Editora) nesta quinta-feira (12), em que apresenta sua investigação acadêmica sobre o fenômeno da intolerância religiosa e do racismo no Brasil desde 1950 e, entre outros temas, analisa os processos que levam a ataques contra espaços de culto de matriz africana, que se tornaram recorrentes. Só no Rio de Janeiro, informa, há cerca de 200 terreiros sob ameaça.
“É caminhando juntos em prol das liberdades, da pluralidade, das humanidades, da tolerância e dos direitos humanos que vamos construindo, mesmo que aos poucos, uma sociedade tolerante onde as nossas diferenças possam ser os nossos pontos de união e coexistência pacífica”, diz o babalaô, doutor em história pela UFRJ, que conversou com Preta, Preto, Pretinhos:
Preta, Preto, Pretinhos – O sr. está lançando o livro “Marchar Não É Caminhar”. Qual a principal contribuição dessa obra, que reflete parte das suas investigações acadêmicas?
Ivanir dos Santos – O livro, que se insere no campo de pesquisa da história das religiões, foi dividido em três capítulos e tem por objetivo fazer uma analise dos processos históricos das lutas e resistências dos adeptos das religiões de matrizes africanas contra a intolerância religiosa no Brasil. Durante a pesquisa busquei analisar como e por que a intolerância religiosa, contra os seguidores dessas religiões, é um processo histórico, político e social, entrelaçado no desenvolvimento da sociedade brasileira.
Fruto do desenvolvimento da ideologia racista, fomentada entre os séculos XVII e XIX, a intolerância religiosa serviu para justificar a dominação e a colonização das populações negras na África, e o traslado e a escravidão nas Américas, principalmente no Brasil. Também é objetivo da pesquisa analisar os processos de marginalização social e política desses sujeitos enquanto subalternizados. Desse modo, para recompor e estruturar as nossas análises, também é anseio dessa pesquisa evidenciar os marcos históricos relevantes desse processo até o acontecer da 1ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, realizada em 2008, na cidade do Rio de Janeiro, bem como a sua comparação com a Marcha para Jesus, no mesmo ano.
PPP – O sr. é interlocutor da CCIR há 12 anos. Como vê a problemática da intolerância religiosa no Brasil hoje?
Ivanir dos Santos – A intolerância é um problema social, político e religioso que atinge toda a sociedade brasileira. E é uma questão que está desde a gênese da formação do nosso país. Não podemos desvincular tais construções do racismo cientifico que formou boa parte da intelectualidade dentro e fora do Brasil até o século XIX. E essas construções sociais (intolerância + racismo) têm seus desdobramentos, hoje, nos inúmeros casos de intolerância religiosa principalmente no Estado do Rio do Janeiro.
Acredito que ainda é muito prematuro falar do fim da perseguição e demonizações religiosas, porque ela está entrelaçada às práticas culturais cotidianas da sociedade. Mas acredito no fomento das políticas públicas no campo da educação, na valorização das múltiplas identidades.
PPP – Ao longo de 12 edições como o sr. vê o amadurecimento (ou não) desse debate na sociedade brasileira?
Ivanir dos Santos – Vejo, sim, principalmente no campo acadêmico. Mas ainda é muito tímido o debate. Precisamos investir em mais pesquisas e publicações que busquem colocar no centro dos diálogos esses temas. E a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa só tem uma conotação, plural, em prol das liberdades. Buscamos a cada edição ampliar nossa atuação, para que outras bandeiras de resistência possam ganhar espaços e vozes.
Lançamento do livro “Marchar Não É Caminhar”
12 de setembro, às 19h, na Livraria Blooks (Espaço Itaú de Cinema – Praia de Botafogo, 316, Rio; tel. (21) 2237-7974)
12ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa
15 de setembro, a partir das 11h, no Posto 6 de Copacabana