Artista coloriza registros de homens e mulheres escravizados no Brasil

“Humanizar” e “individualizar” personagens que parecem pertencer apenas aos livros de história é uma das missões do trabalho da mineira Marina Amaral. A “mestre da colorização fotográfica”, como foi descrita por meios internacionais como a revista “Wired”, autora de projetos de fôlego que trazem aos nossos dias pessoas, momentos e paisagens ressignificados pelo olhar contemporâneo, se debruçou desta vez sobre registros de homens e mulheres escravizados em Salvador e Recife ao redor de 1869. Agora ela mostra essas fotografias colorizadas, no projeto “In Color – Slavery in Brazil, 1869” (Em cores – Escravidão no Brasil, 1869). “A cor tem o poder de trazer de volta à vida os momentos mais importantes”, reflexiona.

Os registros originais, de autoria de Alberto Henschel, são parte do acervo de instituições como o brasileiro Instituto Moreira Salles e os alemães Leibniz-Institut für Länderkunde e Museu Etnológico em Berlim. No século 19 Henschel possuía escritórios de fotografia em Pernambuco, na Bahia, no Rio e em São Paulo. Nomeado “Fotógrafo da Casa Imperial”, o alemão produziu uma série de registros de paisagens e do cotidiano da monarquia no Brasil durante o reinado de Pedro II. Entre suas contribuições mais destacadas, estão os singulares retratos que realizou de africanos escravizados e livres.

Em sua página, Marina apresenta as fotos nas versões originais e colorizadas, o que possibilita, além de uma simples comparação, a apreciação de detalhes que fazem com que o registro perca o pó do passado para se tornar uma fotografia que tece pontes imediatas com nossa realidade cotidiana. “Em cores” devolve à vida rostos e expressões que reverberam com mais intensidade no observador porque dialogam com as representações a que estamos habituados no presente.

“Como nada se sabe sobre os homens e as mulheres nas fotos, não pude fazer muita pesquisa”, conta a artista. “Então, as cores que você verá aqui são uma interpretação artística, baseada na minha experiência, observação, em fotos modernas e em investigações básicas preliminares. Por essa razão, elas não são necessariamente 100% precisas, mas estão perto do possível, dadas as limitações que encontrei ao longo do processo.”

A autora enfatiza que as imagens não estão à venda e que não serão oferecidas impressões, mas que em breve tornará disponíveis os registros em alta resolução para uso de educadores.