Negra, gaga, feminista e estrangeira, deputada eleita enfrenta abaixo-assinado contra sua posse em Portugal
Primeira mulher negra a encabeçar uma lista na disputa por um lugar no parlamento de Portugal, na Assembleia da República, à frente do partido “de esquerda verde” Livre, a recém-eleita deputada Joacine Katar-Moreira enfrenta uma nova batalha após vencer o pleito de 6 de outubro.
Abaixo-assinado, que reunia até a noite desta sexta-feira (11) 19.800 adesões, defende que a legisladora de 37 anos não tome posse. Nascida na Guiné-Bissau, Katar-Moreira vem enfrentando críticas ferozes pelo fato de haver exibido a bandeira de seu país natal (e não de Portugal) no ato de comemoração pela eleição. A petição considera que seu comportamento foi “antipatriótico”.
Historiadora, doutora em Estudos Africanos, fundadora do Instituto da Mulher Negra em Portugal (Inmune), Katar-Moreira é gaga e, por conta disso, também se tornou alvo de memes e piadas por parte de portugueses que se opõem à sua presença na política nacional.
Ela se manifestou sobre os ataques na sua conta de Twitter: “Gente que de repente sonha com a minha desistência do cargo de deputada a quatro dias depois das eleições, (…) infernizando a minha vida, não contribuindo em nada e minando tudo, ou então assinando petições… Escutem: isto sempre foi uma guerra para pessoas como eu”, escreveu.
“Chegou o desconforto ao parlamento!”, já havia afirmado na mesma plataforma, no dia seguinte à sua eleição.
Nesta quarta-feira (11), o Partido Livre reforçou o apoio à legisladora por meio de um comunicado: “Joacine Katar-Moreira foi eleita em primárias abertas, por membros, apoiadores e simpatizantes do Livre, para ser cabeça de lista do círculo por Lisboa. Sabíamos que seria uma candidatura disruptiva e essencial para a mudança que preconizamos para o país. Lamentamos e repudiamos os ataques de ódio”.
A deputada não é a primeira negra a ocupar o Legislativo (nem o Executivo) português. Mas, com uma candidatura pop, colorida, musical e que se tornou vetor para outras minorias (a dupla Fado Bicha, por exemplo, é parte do jingle e de clipe de sua campanha), a popularidade adquirida pela então aspirante à Assembleia e seu êxito nas urnas – a bordo do slogan de que daria “um pontapé no estaminé” (algo como o brasileiro “meter o pé na porta”) – massificaram a discussão sobre tolerância, representatividade e preconceitos vários no país.