Com seu afrobeat 100% feminino e ‘unida em potência’, banda Funmilayo faz ‘convite à luta e à esperança’

A Funmilayo é uma banda de afrobeat 100% feminina. O Preta, Preto, Pretinhos conversou coletivamente com as 12 integrantes dessa orquestra de sentidos e significados, que lança seu primeiro trabalho neste sábado (7), às 19h, na Praça Coberta do Sesc Santo Amaro, em São Paulo.

Nesse papo se encontram a percussionista AfroJu, a saxofonista e vocalista Ana Goes, a guitarrista e vocalista Jasper, a baterista Priscila Hilário, a vocalista Rosa Couto; Stela Nesrine, saxofonista e vocalista; Suka Figueiredo, saxofonista; e Tamiris Silveira, tecladista. Por sua vez, Bruna Duarte, no contrabaixo, Larisa Oliveira, no trompete, a saxofonista Suka Figueiredo e a bailarina, pesquisadora e produtora Vanessa Soares apoiaram as companheiras nas suas respostas. Confira alguns trechos dessa conversa polifônica.

Preta, Preto, Pretinhos – A Funmilayo é uma banda composta totalmente por mulheres. Isso é importante porque…

AfroJu  Significa um coletivo preto de autofortalecimento e resistência, sua existência, permanência e vivência individual e coletiva negra nesse país – no qual a produção (e não só) musical é dominada por homens, e esses majoritariamente brancos. Sua existência é resistência e referência, seu nascimento veio justamente da necessidade de representatividade negra brasileira feminista num espaço/estilo musical também majoritariamente executado por homens.

Ana Goes Cria uma identificação imediata de e para mulheres negras. É aquela coisa de olhar e se sentir representada! Afrobeat é negro. Entendemos que esse espaço também é feminino. Estamos mostrando a força e a determinação da mulher nesse ritmo.

Jasper Porque estar cercada de mulheres que entendem e compartilham da sua trajetória e vivência – partilhando compreensão através do diálogo entre suas iguais – potencializa muito o ambiente de criação e crescimento musical de nós, mulheres pretas, já que existem diversas situações desagradáveis racistas e machistas que passamos no nosso dia a dia, e dentro da indústria musical. Ter umas às outras como fonte de incentivo nos fortalece e engrandece.

Priscila Hilário É importante porque… o estilo é originário da Nigéria, espaço predominantemente negro, mas não amplamente disseminado, e por isso alcançava apenas pessoas mais privilegiadas.

Rosa Couto Ser um banda de mulheres é importante como espaço de crescimento artístico-musical no qual sei que minhas demandas e ideias serão ouvidas, respeitadas e consideradas e no qual posso me sentir segura para criar.

A banda Funmilayo, de afrobeat (José de Holanda/Divulgação)

Stela Nesrine – Também porque estamos participando de um processo urgente e muito necessário de reconstrução do nosso próprio imaginário como mulheres pretas, que pouco nos vemos nos palcos além dos lugares estereotipados que nos reservam. Temos excelentes musicistas pretas para todos os instrumentos e fases de produção possíveis. Nossa existência também é um alerta e uma cobrança indireta para quem ainda se apoia em mitos de que é impossível achar mulheres para determinadas funções na música.

Suka Figueiredo – … E porque a música ainda é um universo muito machista, e as oportunidades são complicadas para as mulheres, e em especial para as negras. Estar numa banda só de mulheres é ocupar um espaço que nos foi negado por muito tempo.

Tamiris Silveira – Também porque inspira outras mulheres a trabalhar juntas e se fortalecer, além da representatividade no mercado musical.

PPP – As mulheres negras ocupam a base da pirâmide social, e vocês escolheram o nome de uma ativista nigeriana (também mãe de Fela Kuti) para batizar a banda. Que recado a Funmilayo quer dar?

AfroJu – A nossa menagem é de emancipação, feminismo, resistência, representatividade e luta contra esse sistema classista, racista e machista.

Ana Goes – A mensagem é que nosso lugar é onde quisermos estar! Somos tão competentes quanto qualquer homem em qualquer espaço. Simplesmente não estão acostumados conosco em determinados ambientes. Só digo: recebam!

Jasper – O que dizemos às mulheres pretas brasileiras é que nós podemos e devemos estar à frente das nossas próprias narrativas de luta. Podemos estar na liderança, seja no campo político, familiar, artístico, acadêmico ou qualquer outro que contemple a nossa jornada, principalmente quando nos unimos e nos apoiarmos, sendo a base uma da outra, aprendendo a amar e a cuidar do “ser eu”. E assim sempre crescendo em “ser nós”.

Priscila Hilário – Nossa luta é dura, mas justa e necessária. Além disso, é importante estar atento. Sempre estão tentando nos calar, mesmo nas formas mais brandas.

Rosa Couto – Fazemos um convite à luta e à esperança. Um convite para que as mulheres negras ocupem cada vez mais espaços como artistas, instrumentistas, pensadoras, compositoras, arranjadoras ou onde mais elas desejarem.

Stela Nesrine – Acredito que a primeira mensagem que passamos é a de que nós existimos. Simples, porém extremamente potente. É uma realidade, uma banda de 11 musicistas e mais uma produtora e dançarina, composta de ponta a ponta por mulheres pretas. Essa por si só é a mensagem mais importante: estamos em tudo, vivemos de nossa arte, contrariando estatísticas. E vamos fazer barulho, então vamos juntas. Nos palcos, meu objetivo é que com nossa música façamos pensar, que incomodemos racistas e machistas, que façamos jus à luta e nome dessa mulher incrível que escolhemos homenagear e que, neste país escravocrata, que é racista e elitiza a música preta, o afrobeat seja disseminado entre o povo e cada vez mais reapropriado pelas pessoas pretas.

Suka Figueiredo – O lugar da mulher negra é onde ela quiser e devemos estar unidas em potência para transformar essa pirâmide que tanto nos massacra.

Tamiris Silveira – A mensagem da Funmilayo Afrobeat Orquestra às mulheres negras brasileiras é: ocupem os espaços, construam uma rede de apoio e de amor entre mulheres pretas. Estamos aqui para nos fortalecer e mostrar ao mundo que nosso lugar é no palco fazendo arte!

Funmilayo Afrobeat Orquestra
7 de dezembro, 19h
Sesc Santo Amaro – Praça Coberta, grátis
r. Amador Bueno, 505, Santo Amaro, São Paulo