Vencedor do Oscar, ‘Hair Love’ fala de amor e representatividade – e está disponível na internet

Hair Love“, curta-metragem de animação vencedor do Oscar deste ano, é uma foto de um momento singular – e definitivo – na vida de qualquer garota negra: aquele em que decide tomar as rédeas do próprio cabelo. Isso tem muitos significados, desde o sentido mais literal de poder penteá-lo como bem quiser e entender como lhe dar a forma desejada, até a compreensão mais profunda do que o cabelo representa quanto ao modo em que se vê e que será vista pelo mundo.

Tudo isso está resumido (sem ser banalizado) em seis minutos, no sincero e belo “Hair Love”, dirigido por um ex-jogador de futebol americano, Matthew Cherry, que também levou a história a um livro infantil editado pelo Kokila, selo juvenil da Penguin Random House dedicado a histórias sobre experiências interculturais, diversidade e inclusão.

Na trama, Zuri -uma garotinha inquieta que se prepara para um dia muito especial- leva o pai a se superar na tarefa de penteá-la pela primeira vez.

“Hair Love”, livro e curta vencedor do Oscar de animação deste ano (Foto: Reprodução)

“A importância de ‘Hair Love’ hoje é que fala de representatividade. De normalizar cabelos crespos. Também há uma ideia equivocada sobre homens negros, a de que não estamos envolvidos na vida dos nossos filhos. Mas na verdade há estudos que mostram que os pais afro-americanos estão entre os que mais participam da rotina das suas crianças, e queria representar um pouco isso também. Sempre é possível sair desses lugares preestabelecidos”, disse Cherry em entrevista da editora do seu livro sobre a obra.

No território audiovisual, o autor nascido em Chicago se rodeou dos especialistas em animação Everett Downing Jr. e Bruce W. Smith para fazer do seu curta um hino à beleza negra cotidiana e uma injeção de autoestima, além de um espelho positivo para crianças de cabelos crespos que desejam se mostrar tais como são.

Bem-sucedido nos bastidores da indústria audiovisual (foi produtor executivo de “Infiltrado na Klan”, filme de Spike Lee vencedor do Oscar de roteiro adaptado no ano passado), Cherry tem em “Hair Love” seu terceiro filme como diretor, depois de “The Last Fall” (2012) e “9 Riders” (2016), que ganhou destaque por ter sido filmado com um iPhone 6s. Com a animação, rompeu outro paradigma no cenário norte-americano, ao conseguir contribuições acima dos US$ 75 mil planejados e coletar mais de US$ 280 mil, um recorde para um curta-metragem na plataforma Kickstarter.

“Não precisávamos de uma narrativa grandiloquente, essa é só a história da relação de um pai com sua filha. Pensei no meu pai e de como ele me penteava. E o cabelo é quase um terceiro personagem no livro”, descreve Vashti Harrison, ilustradora da versão impressa, lançada em maio de 2019 e que ocupou a lista dos livros infantis mais vendidos do “New York Times”.

“Acho que qualquer grupo ou pessoas de qualquer raça podem se identificar com essa história”, diz o autor, “porque todos nos beneficiamos quando nos conhecemos melhor entre todos e quando sabemos que a nossa experiência não é a única que existe”.