‘Quero um dia conseguir dialogar sobre a minha irmã com direita, centro e esquerda’, diz Anielle Franco
Março chega com o “mês Marielle” no Rio de Janeiro. A família da vereadora, cujo assassinato vai completar dois anos no dia 14, inaugura neste domingo (1) as ações do Instituto Marielle Franco com uma série de atividades.
Será a partir das 15h, no Largo São Francisco da Prainha, centro do Rio (veja a programação abaixo).
As mortes de Marielle, e do motorista Anderson Gomes, impulsionaram, entre os familiares da vereadora, o desejo de reunir pessoas dispostas a trabalhar em prol de maior educação, justiça e diálogo social, como conta ao Preta, Preto, Pretinhos a irmã de Marielle, Anielle Franco.
As ações do instituto se articulam em quatro eixos: “Semente, legado, memória e justiça”, enumera. “Quero que o instituto seja conhecido mundialmente e que eu consiga um dia dialogar com a direita, com o centro, com a esquerda sobre a minha irmã, sobre o que acreditamos, sobre nossos valores. Sobre o porquê de esse crime não ser um crime qualquer. O objetivo do Instituto Marielle Franco é se tornar uma referência, e que a gente possa concentrar demandas, os projetos da Marielle e seguir adiante com esse legado sem perder nossa essência e responsabilidade.”
Neste domingo (1), o instituto promove uma exposição com fotos familiares de Marielle Franco, “um material que só minha mãe tinha” – conta Anielle -, além de shows e rodas de conversa. No dia 14 acontece um festival e faz parte dos planos também uma feira onde mulheres negras possam expor suas atividades e produtos. “Queremos fazer uma ação que seja a cara da Mari, que a gente lute por justiça, que espalhemos alegria e que possamos debater e conversar com outras pessoas. Março não podia passar em branco”, diz.
Financiamento coletivo
O instituto continua em campanha para arrecadação de recursos, necessários para manter a casa aberta durante o mês de março, já que é um espaço alugado, e para a continuidade do lançamento pelo Brasil e o início de projetos como Escola Marielles e Centro de Memória e Ancestralidade. As doações podem ser feitas através da página da entidade na internet.
“Eu tenho esperança”
A quase dois anos do assassinato de Marielle, Anielle afirma que a família vem tentando equilibrar “razão e emoção”, em um processo difícil e que requer dedicação e esforço para manter a saúde física e mental. “Hoje a gente tem que se dividir entre ser a família da Mari e os trabalhos que a gente já tinha antes, e não é fácil.”
Sobre os desdobramentos das investigações, ela diz que “a família recebe as informações de forma tranquila”. “Desde o início estamos acompanhando tudo com o pé atrás, mas também com muita esperança. Agora é esperar e desejar que esse mistério seja desvendado, não só para a gente, mas para a sociedade inteira.”
Anielle conta que as adversidades fizeram com que sua família crescesse e se fortalecesse. “Eu tenho esperança de que a gente descubra, embora às vezes eu fique um pouco descrente. Mas nós crescemos assim, quando estamos mal, tentamos nos reerguer. Continuo esperançosa de que em algum momento essa resposta vai sair. Eu tenho fé de que algum dia a gente vai olhar para trás e pensar: ‘Demorou, mas conseguimos’.”