De Luiz Gama a Maria Firmina dos Reis, ciclo aborda pensamento de sete intelectuais negros fundamentais

Autores negros fundamentais para o pensamento social brasileiro ocupam o centro de “Intérpretes Negras (os) do Brasil”, ciclo realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação do Sesc que agora ganha vida online – e atualizada, sob a forma de curso -, a partir de hoje (11). A série de sete vídeos, disponível gratuitamente no YouTube, conta com professores e pesquisadores que introduzem o internauta na obra de intelectuais como Luiz Gama, tema do primeiro episódio.

Nas próximas semanas, Maria Firmina dos Reis, Nascimento Moraes, Guerreiro Ramos, Clóvis Moura, Milton Santos e Lélia Gonzalez serão abordados por intelectuais igualmente negros, que analisam esses autores em intervenções didáticas, mas sem perder profundidade.

A vida e a obra de Luiz Gama é apresentada pela professora Ligia Fonseca Ferreira, doutora pela Universidade de Paris 3 – Sorbonne e docente na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Escritor, advogado, republicano e abolicionista negro que lutou pelo fim da escravidão em um Brasil monárquico, Gama morreria seis anos antes da Lei Áurea e sete anos antes da Proclamação da República. “Falar dessa dupla condição é falar de uma sociedade profundamente desigual, desigualdade que nós herdamos e que nos persegue ainda hoje”, afirma Ferreira, especialista na obra do pensador baiano.

Curso do Sesc, grátis, está disponível na página da instituição no YouTube (Reprodução)

Ela detalha o contexto do momento social, econômico, político e cultural em que Gama viveu e cujos problemas foram vistos por ele de forma aguda. A professora traça pontes com o Brasil de hoje e não perde de vista as circunstâncias atuais mundiais, em meio à pandemia do coronavírus. Convida o internauta – a partir da sua casa – a observar as relações de poder que se arrastam no Brasil desde o Império e que ganham novos-velhos contornos nos dias atuais. “Será que, mutatis mutandis, isso teria uma relação com o Brasil tal como foi visto pela ótica dos e das intérpretes negros, apresentados neste ciclo, mesmo aqueles que viveram em um tempo aparentemente tão longínquo, como Luiz Gama?”

A resposta, ela desenvolve ao longo da sua apresentação. Em 20 minutos, dimensiona o legado gigantesco deixado pelo único ex-escravo negro no Brasil que vai se tornar cidadão, abolicionista, político relevante. “Ser escravo e ser cidadão eram coisas praticamente contraditórias e quase excludentes no seu tempo. Luiz Gama vai se tornar uma voz influente na política, no momento de reformas e transformações cruciais que vão remodelar não só os destinos do Brasil mas também os corações e as mentes dos brasileiros.”

Curso “Intérpretes Negras(os) no Brasil”
Quando: a partir de hoje (11)
Onde: clique aqui