Diversidade Carioca diz que chapa no Rio é ‘ariana’; Rede manifesta ‘surpresa’

Entidades reunidas sob o Manifesto da Diversidade Carioca – movimento que propôs no ano passado a formação de um coletivo político que incluísse pretos e pardos de forma ativa na formulação e na liderança de projetos para o Rio de Janeiro – elaboraram nota de repúdio em que expressam “pesar” por não terem sido ouvidas para a formação de uma chapa única integrada por PDT, PSB e Rede à prefeitura da cidade. Os grupos Frente Favela Brasil, Nova Frente Negra Brasileira, Alternativa Popular e Unegro (União de Negros pela Igualdade) assinam o documento.

Geraldo Coelho, do partido Frente Favela Brasil, afirma ao Preta, Preto, Pretinhos que os partidos entraram em contato com as entidades, após a divulgação do texto, “para estreitar relações”.

Segundo ele, as organizações negras já haviam tido reuniões anteriores com diversos representantes políticos. “Apesar de todas as conversas realizadas, mais uma vez os brancos, empoderados, de classe média ou ricos, resolveram sozinhos fechar questão na sucessão municipal deste ano”, expressa a nota. “Nenhuma entidade negra foi ouvida. O povo fica fora das mesas de negociação política”, afirma em outro trecho. “Repudiamos veementemente essa chapa ariana à prefeitura de uma cidade onde há tantos negros, mas que só servem como mão-de-obra barata, como presidiários, como matáveis.”

Segundo Coelho, mais de cem organizações hoje aderem ao Manifesto da Diversidade Carioca, reunidas “em torno a um programa de governo pautado na questão racial”.

Eduardo Bandeira de Mello (Rede), ex-presidente do Flamengo que integra a chapa ao lado de Martha Rocha (PDT), diz ao blog que a nota causou “surpresa”. “Vamos resolver isso com diálogo. A principal líder política da Rede é negra”, afirma, em referência a Marina Silva. “Como podemos ser racistas?”.

Geraldo Coelho, do partido Frente Favela Brasil (Divulgação)

A Rede também respondeu às entidades do Diversidade Carioca em um comunicado oficial: “A Rede Sustentabilidade, assim como o PSB e o PDT, tem um consistente histórico ligado às lutas contra o racismo e ao irrestrito apoio a ações afirmativas que as entidades signatárias do manifesto defendem. Seus candidatos, em todas as eleições, inclusive presidenciais, e a composição das chapas de pré-candidatos às eleições proporcionais deste ano afastam qualquer suposição de desalinhamento com a luta empreendida pelas organizações que elaboraram o documento. Compreendemos a relevância dos questionamentos, respeitamos, acolhemos as críticas apontadas e já iniciamos o diálogo com as organizações”.

Em sua nota de repúdio, o Diversidade Carioca afirma que “não existe nenhuma frente democrática e progressista, não há movimento do Somos 70% sem a participação da sociedade, sem a participação de pretos e pardos, sem a participação das suas entidades representativas”.

“Do que falamos é de ter uma pauta preta para o Rio de Janeiro. Queremos a presença do povo preto na política, isso é importante para todo o Brasil. Não adianta falar do povo preto, se não se abre espaço para o povo preto. Ou a gente divide as riquezas deste país ou todos vamos dividir as consequências dessa desigualdade”, afirma Coelho. “Essa live (em que representantes dos três partidos anunciaram a chapa única) soou quase como ironia para nós. Como podem ser 70% da população, se 56% dela é preta e não há representatividade ali?”.

Bandeira de Mello afirma que a chapa está “aberta a qualquer conversa, a qualquer momento”. “Não é hora de ser agressivos nem reativos. Temos um canal aberto, vamos fazer uma reunião. Já nos reunimos com várias lideranças do Cetrab (Centro de Tradições Afro-Brasileiras), temos uma relação muito boa com os movimentos negros. Todos vamos nos entender.”