Em meio a ataques e à pandemia, cervejaria gaúcha luta para manter produção e representatividade
A Implicantes é uma cervejaria criada em Porto Alegre que traz, literalmente, a representatividade engarrafada em tudo o que faz. Além de ser um negócio comandado por negros, os rótulos das garrafas homenageiam personalidades afrobrasileiras como Maria Firmina dos Rei ou Leônidas da Silva (veja em galeria abaixo).
Em meio à pandemia do novo coronavírus, a empresa vem passando por reveses, e não só econômicos: ao iniciar uma campanha de financiamento coletivo que tem por objetivo, entre outros, permitir ao negócio manter seu maquinário apesar da queda na produção, a cervejaria e seus criadores vêm sendo alvo de ataques racistas nas redes sociais.
“Recentemente, a namorada de um dos sócios fez uma postagem, apenas contando sobre o financiamento coletivo e pedindo apoio, com contribuições, para quem pudesse, ou com o simples compartilhamento do projeto. O post viralizou e deu início a uma enxurrada de comentários racistas extremamente agressivos. Não sabemos exatamente de onde vêm os ataques, porque há muitos perfis falsos”, conta Diego Dias, um dos sócios, ao lado do irmão, Daniel Dias, e do primo, Thiago Rosário.
Alguns desses perfis se referem ao fato de a Implicantes se definir como uma cervejaria negra, algo que para esses internautas soa ofensivo ou excludente do restante da população.
“O fato de falarmos que somos a primeira fábrica cervejeira negra é para exaltar que é comandada por pretos e para que nosso povo se sinta representado. A Implicantes nasceu pelo fato de não nos sentirmos representados no meio cervejeiro, já que por muitas vezes cervejarias nos ‘homenagearam’ de forma totalmente equivocada, sempre usando termos pejorativos, caricatos, envolvendo uma cerveja escura”, afirma. “O objetivo da cervejaria é que todos saibam que a luta antirracista no meio cervejeiro existe e que qualquer preto ou preta disposta a querer conhecer cervejas de estilos diferentes serão representados, e não hostilizados.”
Para os sócios, os posts ofensivos vêm justamente reafirmar a importância do empreendimento, criado há quase dois anos em um 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. “O fato de sabermos que há pessoas racistas nos atacando apenas confirmou a necessidade de continuarmos implicando e mostrando que, independentemente da vontade dos que disseminam ódio gratuito, o mercado cervejeiro, assim como qualquer outro, é espaço para a diversidade.”
Financiamento coletivo
A campanha de financiamento iniciada pela Implicantes tem por finalidade, contam os sócios, manter a fábrica e o maquinário, além de possibilitar a sobrevivência do negócio em meio à pandemia, já que as maiores vendas da cervejaria aconteciam em eventos. Agora eles fazem exclusivamente venda direta ao consumidor final.
“Tentamos empréstimo em instituições financeiras, mas tivemos várias negativas. A ideia do financiamento coletivo surgiu analisando a prática em outras empresas que foram exitosas. No financiamento é possível contribuir com qualquer valor. Nós sugerimos faixas, e o pessoal recebe um produto exclusivo como forma de agradecimento pela contribuição. Estamos entregando em todas as regiões do país”, diz Diego.
“Além disso, apesar da redução da atividade por causa do coronavírus, ainda estamos produzindo nossas cervejas de linha, como a Pilsen, a Brown e a APA. Mas, infelizmente, em virtude da limitação do nosso atual maquinário, que inclusive é um dos objetos do financiamento, estamos com as entregas das cervejas de linha restritas à região metropolitana de Porto Alegre”, afirma. “Para quem quiser saber mais e contribuir com a campanha, basta acessar bit.ly/vaquinhaimplicantes.”