IMuNe lança festival, edital e aglutina talentos negros em Belo Horizonte

O momento é agora. O instante é hoje. Movimento é poder (veja clipe). Todas essas mensagens (e muitas outras) emanam do IMuNe – Instante da Música Negra, coletivo-movimento-plataforma-banda-filosofia criado há quatro anos em Minas Gerais e que tem como objetivo essencial promover, visibilizar e valorizar músicos negros. Do conceito à ação, o IMuNe agora está selecionando artistas afrobrasileiros através de um edital e também este mês dá início a encontros, debates e festival para tratar de temas como o racismo estrutural, que afeta também o universo musical.

O início de tudo foi a experiência cotidiana vivida na própria pele. “Mesmo a população negra sendo maioria no nosso país, em Minas Gerais, assim como em muitos Estados do Brasil, grande parte dos projetos aprovados nas leis de incentivo era de pessoas brancas. As line ups de grandes festivais eram, majoritariamente, composta por bandas e projetos solos de homens brancos. Isso ainda é evidente até hoje, apesar de já termos avançado na questão da representatividade negra. O artista preto sofre duplamente, uma por não ter condição de investir dinheiro próprio na sua carreira e outra porque não consegue ter seus projetos aprovados nos editais públicos de fomento à cultura e à arte”, afirma ao Preta, Preto, Pretinhos Bia Nogueira, idealizadora do coletivo.

Do grupo também fazem parte os artistas Cleópatra, Maíra Baldaia, Guilherme Ventura, Rodrigo Negão e Raphael Salles, que administram suas carreiras individuais ao lado dos trabalhos de produção vinculados ao IMuNe, de mostras a residências artísticas, de workshops a feiras de negócios, de agenciamentos a apresentações em formato de banda.

Elza Soares, que será parte do Festival IMuNe (Denise Ricardo/Divulgação)

Edital, campanha, debate, shows

As diversas iniciativas do coletivo estão reunidas no Festival IMuNe deste ano, que acontecerá majoritariamente de forma virtual. Três instâncias conformam as ações: a campanha Imunidade Sonora, o Rolezinho IMuNe e a IMuNe Experience.

A campanha, até 4 de outubro, tem entre seus objetivos doação de recursos para instituições sociais e geração de uma renda mínima para artistas negros, que serão selecionados por meio de um edital. Serão concedidas 17 bolsas artísticas no valor de R$ 300 e também será feita uma seleção de outros cinco talentos, que farão um show de encerramento da programação do Rolezinho IMuNe.

O Rolezinho, entre 15 de agosto e 12 de setembro, terá nove painéis de debates gratuitos e ao vivo, transmitidos por YouTube e Instagram. Dos encontros participarão profissionais do mercado da música, intelectuais e ativistas.

Por fim, em 26 de setembro, as atividades do festival – selecionado pelo Natura Musical – se encerrarão com projeções no centro e na periferia de Belo Horizonte e com um show liderado por Elza Soares e transmitido pelo YouTube. Ao seu lado estarão Flávio Renegado, Banda IMuNe, Favelinha Dance e Meninos de Minas com a participação especial da MC Dellacroix.

“A plataforma IMuNe deseja ser um refúgio, um espaço de aquilombamento para as pessoas negras que querem viver de música. Desejamos nos fortalecer entre nós, com afeto e partilha das nossas experiências, para aí sim ampliarmos nossa voz”, resume a criadora do coletivo. “Vivemos momentos sombrios em que o medo virou uma estratégia de desarticulação dos movimentos sociais. Vejo que não há saída que não passe pela solidariedade e pela alegria. E isso expressa bem o que nós do IMuNe fazemos diariamente no nosso trabalho.”

Festival IMuNe 2020:
* Campanha Imunidade Sonora – até 4 de outubro – contribuição livre – gofree.co/imunidadesonora
* Edital – http://www.coletivoimune.com.br/imune/imunidade-sonora/
* Rolezinho IMuNe – entre 15 de agosto e 12 de setembro – por YouTube e Instagram, grátis
* IMuNe Experience – em 26 de setembro, às 20h – projeções e transmissão pelo YouTube, grátis