Aos 86 anos, Osvaldo Pereira, DJ pioneiro do Brasil, volta a pilotar suas pick-ups
O primeiro DJ do Brasil hoje tem 86 anos, continua na ativa e é peça fundamental da história do movimento negro brasileiro. Piloto da Orquestra Invisível Let’s Dance, criada nos anos 50, Osvaldo Pereira volta às pick-ups neste domingo (13), às 15h, para a abertura do Entretodos 13 – Festival de Filmes Curtos e Direitos Humanos.
O encontro virtual traz, até 19 de setembro e de forma totalmente gratuita, materiais audiovisuais e debates com realizadores de vários países que se ocuparam de retratar histórias que discutem desigualdade, intolerância e direitos, também para um público infantil e jovem. Pandemia, trabalho, sistema prisonal, raça, educação, moradia, orientação sexual, processos migratórios, garantias constitucionais para idosos, pessoas com discapacidade e meio ambiente são algumas das temáticas que atravessam os curtas e as reflexões.
A trajetória de Osvaldo Pereira é o eixo do curta-metragem documental “Orquestra Invisível Let’s Dance”, de Alice Riff, que será apresentado ao lado de outros reunidos sob a temática “Raça e Periferia”.
Na expectativa para a abertura, ele conta ao Preta, Preto, Pretinhos que está em um momento de concentração, mas adianta o que está preparando: “Estou atento para agradar o público. Estou treinando uma seleção musical que vai dos anos 50, passando pelos 60 e entrando um pouco nos 70, com grandes sucessos nacionais”.
O curta sobre sua trajetória é uma declaração de amor à música e ao poder que tem de transformar realidades duras, ainda que apenas por instantes. No documentário, já no segundo minuto, com sua fala mansa e olhar brilhante, Pereira afasta lona, caixas de papelão e fios empoeirados para mostrar os equipamentos que não só utilizou – também inventou – para fazer sua discotecagem de música de baile.
Com a saída de Muzambinho (MG) e a chegada a São Paulo nos anos 40, o DJ, técnico em eletrônica, se empregou como montador de rádios e com os conhecimentos adquiridos construiu seu próprio amplificador. Daí para começar a desenvolver seus próprios aparelhos e fazer festas foi um passo – de baile. “A negrada era doida por big band”, se diverte.
“Meu conselho para um DJ? Que tenha um feeling e que procure adquirir seus equipamentos.”
Amante da música das jazz bands que escutava na infância com a mãe, em um lugar que podiam frequentar – e em um cenário onde “não havia espaço para negros e gente da periferia” nos clubes de dança de gala – Pereira equalizaria essa situação ao criar um baile “de negrão”, como conta no filme, que também tem narração do DJ Grandmaster Ney, seu sobrinho.
“Sempre gostei muito de ouvir e tocar músicas orquestradas das big bands, Glenn Miller, Ray Conniff e Ray Charles, por exemplo, gosto também de jazz, samba, e posso citar Nat King Cole, Louis Armstrong, Elza Soares, Miltinho, Jamelão, muitos outros”, conta “seu Osvaldo” ao blog.
Seus bailes na noite paulistana são parte do início de um movimento que se fortaleceria nos anos seguintes e que no final da década de 70 chegaria a reunir 20 mil pessoas em clubes de dança periféricos.
Tanto tempo depois, ele vê a ascensão da profissão de DJ com alegria. “É uma mudança positiva. Costumo dizer que jamais poderia imaginar que aquela sementinha que plantei lá no início fosse tão longe. Eu me sinto honrado por tudo isso.”
Indagado sobre que recomendações daria para quem deseja se aventurar pelo mundo da discotecagem, Pereira diz: “O primeiro conselho que eu daria é que a pessoa tenha um feeling, que goste e pesquise sobre música, que procure adquirir seus equipamentos e fazer um curso de DJ do seu gosto”.
Seguir o ritmo da música – e da vida – também poderia ser uma das suas dicas, a julgar por seus interesses atuais, que não se detêm em glórias passadas: “Gosto das músicas internacionais de hoje em dia e também das brasileiras. Estamos na era digital e gosto de acompanhar essa evolução”.
Entretodos 13 – Festival de Filmes Curtos e Direitos Humanos
De 13 a 19 de setembro
Programação completa em www.entretodos.com.br