Alunos da Universidade de Princeton produzem páginas na Wikipedia sobre lideranças e ativistas afro-brasileiros

Os alunos do curso do Programa de Português da Universidade de Princeton (EUA) andam atarefados com as redes sociais brasileiras. Eles estão perfilando lideranças negras do país para produzir páginas na Wikipedia que informem aos internautas sobre sua trajetória e atividades. A previsão é de que no final de novembro as páginas estejam publicadas.

O projeto tem coordenação do professor Luis Gonçalves e o objetivo, além de afinar as habilidades linguísticas em português dos estudantes, é aumentar a visibilidade afro-brasileira no território online. “Há uns anos, pensei em criar um projeto que, de alguma forma, promovesse a inclusão, o respeito pela diversidade e os direitos humanos – temas que muito interessam aos nossos alunos—, mas que saísse do nosso campus e que, depois do curso terminado, deixasse uma contribuição positiva para o mundo de língua portuguesa”, conta ele ao Preta, Preto, Pretinhos.

O viés discriminatório das plataformas virtuais não escapa ao coordenador e a Daiane Tamanaha, professora do grupo. A iniciativa já passou por eliminações unilaterais por parte da Wikipedia, como no caso das páginas sobre Duadino Martines, professor e ativista indígena, e Erika Hilton, codeputada estadual de São Paulo (Bancada Ativista-PSOL), trans e negra, entre outras.

“Alegaram que ‘não eram relevantes’. Ficamos revoltados”, conta Tamanaha. “Para fazer esse trabalho, temos a orientação de um editor da Wikipedia, Thiago Varella, que é aluno de pós-graduação da Princeton. Podemos afirmar que as páginas excluídas estavam em conformidade com as regras da plataforma, mas mesmo assim foram apagadas.”

Gonçalves (no alto, centro) em aula (Reprodução)

Gonçalves, que também é presidente da American Organization of Teachers of Portuguese (Organização Americana de Professores de Português), comenta que essa é uma batalha que deve ser encarada sem subterfúgios.

“Obrigamos editores preconceituosos a se identificar”

“Alguns colegas e alunos têm sugerido que talvez devêssemos criar um outro espaço para publicar essas páginas, porque vê-las apagadas por um racista qualquer é muito frustrante. Discordo profundamente porque, se nós fizermos isso, deixamos o preconceito reinar imperturbável num espaço onde ele precisa urgentemente ser questionado e eliminado. São eles que têm que se sentir incomodados, não nós”, afirma.

“Podemos até ter as páginas apagadas, mas obrigamos editores preconceituosos a se identificar e expressar ou defender seus preconceitos quando têm que justificar porque apagaram a página. Esse é um momento importantíssimo para que nós os exponhamos e, em si mesmo, uma outra oportunidade de aprendizado para os alunos, sobre o que essas lideranças enfrentam todos os dias em proporções muito maiores e mais relevantes.”

Este é o quarto semestre em que o grupo realiza um projeto com essas características. Os alunos começaram com páginas de líderes e ativistas indígenas, por dois semestres; depois, com conteúdos sobre referências LGBTQ, e agora, afro-brasileiras.

“Queremos fazer páginas de líderes e ativistas que são conhecidos, que trabalham ativamente pela causa em diversos setores, mas que ainda não possuem uma página na internet. Também é importante que haja bastante conteúdo sobre essas pessoas na imprensa estabelecida porque as páginas da Wikipedia devem ser escritas com base nessas informações – essa é uma regra da plataforma. O aluno não pode, por exemplo, entrevistar a pessoa e escrever a página com base nessa entrevista”, explica Tamanaha.