Brown, Rada e Bastos se encontram na ponte (musical) Brasil-Uruguai
Ruben Rada é o Gilberto Gil do Uruguai. Ícone máximo – não só em seu país natal, mas também na Argentina – da música rioplatense que articula múltiplas influências afroamericanas, ele navega do tango ao rock, do candombe (o “samba” dos uruguaios) ao jazz, da salsa ao pop.
Ao lado de Carlinhos Brown, Rada lança no Brasil – e em um português caprichado – “Chão da Mangueira”, single do disco “As Noites do Rio/Aerolíneas Candombe”, composto com Ronaldo Bastos e que poderá ser ouvido nas plataformas digitais no final do mês. Do disco também participam os artistas brasileiros Tamy e Silva.
A canção, uma ode à nonagenária escola de samba carioca, une “candombe e Carnaval”, como diz a letra. E essa é só mais uma de tantas experimentações de Rada que ultrapassam o meio século. Já nos anos 60, junto a Eduardo Mateo (músico de músicos no país vizinho), com o grupo El Kinto, Rada colocou um toque de bossa nova na cadência dos Beatles, adicionou psicodelia e fechou com candombe para ser uma das pontas de lança de uma sonoridade vanguardista que se repetiria em outras bandas da qual foi parte, como Totem e Opa, nos Estados Unidos.
Fiel a essa trajetória – e às raízes brasileiras, porque sua mãe, Carmen, era gaúcha de Santana do Livramento e chegou a Montevidéu aos oito anos –, ele agora se uniu a Bastos para, em “As Noites do Rio”, propor uma leitura verde-amarela da sua ancestralidade e das sonoridades que vem revitalizando e inventando, e que lhe renderam o prêmio de Excelência Musical no Grammy latino, em 2011.
“Já que minha mãe nunca mais pôde depois voltar ao Brasil, queria devolver o espírito da minha mãe ao seu país”, conta Rada a Preta, Preto, Pretinhos, sobre a motivação central do álbum. Ao conhecer Ronaldo Bastos, o projeto se materializou. “Ronaldo não faz letras, faz poesias, é realmente um gênio.”
Essencial para entender a história da música popular uruguaia, Rada também diz que se emocionou com “o coração, a alegria e a musicalidade” que Carlinhos Brown colocou em “Chão da Mangueira”.
A criança que escutava Dick Farney e Anjos do Inferno na voz da mãe, antes de dormir, agora canta seu Brasil afetivo, e amplificado por influências continentais, em “As Noites do Rio”: “Nesse disco, passo por tango, rock, candombe, samba, passo pelo sete por quatro, um ritmo que aprendi muito a tocar com Airto Moreira nos EUA”, descreve. “E nem vou falar da voz de Silva, em ‘A Menina do Chapéu Azul’, que é a última canção do disco e é algo maravilhoso.”