Curso resgata (e renova) ensinamentos de Mário de Andrade em missão de documentação da cultura afro-brasileira
A missão idealizada por Mário de Andrade (1893-1945) ao Norte e Nordeste do Brasil, em 1938, e que está na gênese dos mapeamentos brasileiros de comunidades tradicionais, é tema de curso virtual que a Casa Mário de Andrade começa no mês que vem. As aulas de “Missão de pesquisas folclóricas: Memória e cultura afro-brasileira” têm início no dia 16 de junho e serão dadas por Alexandre Araujo Bispo, doutor e mestre em antropologia social pela Universidade de São Paulo.
“Mário de Andrade, que era um homem negro, foi o primeiro funcionário público de cultura do país. Desde 1937 vivíamos sob o Estado Novo, que durou até 1945. Esse regime tornou o catolicismo apostólico romano a religião oficial, o que fez com que as religiões afro-brasileiras, que sempre foram perseguidas, sofressem novas repressões”, contextualiza Bispo.
“A importância da missão está no fato de que para o grupo que fez a viagem o candomblé, o catimbó, o tambor de crioula, o tambor de mina e outros cultos deviam ser respeitados porque eram parte da cultura brasileira”, diz o antropólogo ao blog. “Mais de 80 anos depois, quando a intolerância religiosa aumenta assustadoramente no Brasil, a missão nos deixa uma lição de respeito à diferença de crença e culto.”
Em quatro módulos, o curso aborda os seguintes temas: “Antes de 1930: Mário de Andrade, viagem, conhecimento e sociabilidades modernas”; “Raça e relações raciais: a explicação biológica e a explicação cultural antes e depois da década de 1930”; “Estado Novo; Mário de Andrade como gestor público; Missão de Pesquisas Folclóricas (1938)” e “Atualidade: cultura material afro-brasileira, movimentos sociais e repatriação/restituição de acervos”.
“Apesar de vivermos em um momento de maior visibilidade de pessoas negras na sociedade brasileira, não nos esqueçamos de que o que predomina é a vulnerabilidade”, afirma Bispo. “É preciso parar de falar em contribuição da população negra e indígena para o país. Ninguém mais aguenta contribuir tanto para a história deste país, que vinha diminuindo uma série de desigualdades e hoje está no Mapa da Fome e tem 408 mil mortos por Covid-19.”
Também a partir do presente do país, o pesquisador analisa os objetivos e legados da missão concebida pelo modernista, quando foi diretor do Departamento de Cultura de São Paulo, entre 1935 e 1938.
“Não dá para conhecer o Brasil sem conhecer a história das populações negras africanas, afro-brasileiras e indígenas. Aliás, o programa de Mário de Andrade para cultura e educação segue, ainda hoje, não realizado. Sabe por quê? Porque no Brasil sobra vandalismo e extermínio cultural, ou, se quisermos usar um termo em voga, epistemicídio.”
As aulas ficarão disponíveis aos inscritos durante um mês, até 16 de julho, para que o aluno possa acompanhar o curso em seu próprio ritmo.
Curso: Missão de pesquisas folclóricas: Memória e cultura afro-brasileira
Onde: Casa Mário de Andrade, através de suas plataformas virtuais
Quando: entre 16 de junho e 16 de julho
Inscrições: até 15 de junho, aqui
Taxa de inscrição: R$ 70